quinta-feira, outubro 23, 2008
...declaro o Dia Comemorativo da Não-Comemoração. É certo que vem de muito longe a evocação anual de divindades, personalidades históricas, acontecimentos verdadeiros e míticos, que assim chegaram até nós (muito, pouco ou nada intactas) as festividades civis, os feriados religiosos, os memoriais, e que estes encerram valor civilizacional na sua lógica celebrativa; mas esta actual tendência para comemorar tudo o que se possa imaginar anda a transformar o calendário gregoriano numa agenda saturada e saturante. É claro que a ideia - em grande medida propulsionada pela ONU, e em particular pela UNICEF e UNESCO, depois mimetizada por várias outras organizações e estados - de instituir dias nacionais, internacionais e mundiais para sensibilizar as pessoas para determinada causa ou problema é positiva, mas como há-de uma pessoa sequer acompanhar todos sentidos propostos para cada dia, todos os dias? Levante a mão quem nestes últimos deu pela celebração do dia da música, do vegetarianismo, as pessoas idosas, dos correios, dos animais, da redução dos desastres naturais, do acesso livre ao conhecimento científico, da erradicação da pobreza e da lavagem das mãos, da alimentação, dos direitos autorais, do combate à osteoporose, dos professores, da animação, das biblotecas escolares. Chiça.
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