quarta-feira, dezembro 27, 2006
É uma daqueles originalidades que tornam os EUA tão interessante que a maior democracia do mundo tenha conseguido ter Gerald Ford como seu 38º presidente sem ele nunca ter sido eleito para o lugar. Como é que isto é possível? Ele era evidente o vice-presidente de Richard Nixon forçado a demitir-se pelo escândalo de Watergate. Mas como saberão os que estejam familiarizados com a história norte-americana tem sido relativemente frequente um vice-presidente substituir um presidente. No entanto, considera-se que o vice-presidente também é eleito como parte do "presidential ticket". Os eleitores teriam em conta que "o outro" seria o chefe de Estado no caso do presidente "falhar". Mas no caso de Nixon, o seu vice-presidente, Spiro Agnew, tinha sido forçado a resignar ainda antes de Watergate por estar envolvido numa série de trafulhices. Nixon tomou a decisão mais inatacável da sua carreira política ao nomear Gerald Ford, um congressista reconhecido pela sua simpatia e honestidade, como seu novo vice-presidente.
O seu papel na reconciliação nacional nos EUA pós-Watergate e pós-Vietname foi reconhecido pelo seu sucessor, o não menos honrado Jimmy Carter, logo na sua cerimónia de posse como sucessor de Ford.
Pode-se ler o relato desses anos por um dos protagonistas principais, um dos principais conselheiros do príncipe, Henry Kissinger, publicado em português sob o título Anos de Renovação (Nota: eu participei na tradução da obra, e é capaz de se notar).
Os portugueses devem a Ford a inspirada escolha de Frank Carlucci para embaixador em Lisboa nos anos decisivos da transição, e o facto de o ter apoiado nalguns momentos decisivos contra as ideias de Kissinger, que parecia por vezes talvez excessivamente inclinado a considerar Portugal como irremediavalmente cubanizado e útil apenas como a vacina anti-comunista da Europa Ocidental.
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