segunda-feira, setembro 25, 2006

Imperdoável

De boina frígia bem enfiada gritando aos sete ventos: imperdoável! Realmente das alturas de limpeza moral e cívica onde está o lacismo - do incomparável alto formado pelas dezenas de milhões de mortos, contados à pressa diga-se, que o ateísmo e o laicismo causaram, logo que, tendo alcançado o poder, puderam por à prova a sua infalível tolerância, da França ao México, da Turquia à China, da Coreira do Norte até ao Camboja e à Rússia, sem esquecer a pequena mas afoita Albânia - percebe-se que não esteja para ouvir desculpas esfarrapadas do papa em particular e das religiões em geral.
Este fanatismo anticlerical que se crê o supra-sumo da tolerância e da sofisticação histórica é imperdoavelmente cómico. Parece que lá aprendeu umas lições com estas atrocidades dos seus correligionários: o fanatismo é mau! Mas eles (agora?) não são fanáticos, claro! Eles não seguem dogmas, mas sim brilhantes e indubitavelmente racionais convicções! Quem as questiona, quem se atreve a colocar em causa a sabedoria do seu decadente e antiquado modelo de laicismo de Estado é um grandissímo intolerante, claro. Talvez até devesse deixar, desde já, aqui, as minhas desculpas. Por outro lado, nem vale a pena, elas não chegam tão alto!

5 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

O ateismo e o laicismo causaram dezenas de milhões de mortos? Como assim?!

O facto de um regime laico e ateu ter matado dezenas de milhões de pessoas não implica que esses crimes devam ser atribuídos à natureza laica ou ateia do regime.

Muito menos implica que todos os regimes laicos e ateus sejam necessariamente criminosos.

Luís Lavoura

12:52 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Luís é sempre bom discutir consigo.

Mas olhe que essa é a resposta chapa três dos laicos e dos ateus.

Não implica? Pois não. E as Cruzadas (que foram há uns 750 anos atrás e tiveram causas várias) ou a Inquisição (idem e que como instrumento repressivo acabou há 250 anos) implica que todos os católicos são Templários ou Torquemadas? Parece que ainda há muito laico e ateu que acha que sim, nomeadamente o autor do texto citado. Ficámos todos para sempre manchados. Mas os crimes dos regimes ateus e laicistas, isso, claro não tem nada a ver com o ateísmo e laicismo. Acha esta postura lógica?

A repressão não tem nada a ver com o ateísmo e laicismo? Quem disse? O fanatismo ateu deitou para o caixote de lixo da história a moral das religiões em nome da moral revolucionária - ou seja, tudo o que é contra a revolução é para abater, tudo o que é a favor das revolução é bom. E teve como alvo predilectos as igrejas e os crentes. Temos, por outras palavras, diante de nós um ateísmo e laicismo tão prático quanto sangrento.

Sobretudo, tudo isto coloca questões fundamentais que, pelo menos, a parte mais visível do nosso ateísmo e laicismo de trazer por casa, cujo discurso é de uma auto-suficiência e superioridade moral a toda prova, nem sequer tenta responder: até onde é que se pode ir ao limitar o acesso da crença ao espaço público das religiões sem diminuir os direitos de cidadania dos crentes? É possível ser-se militantemente contra as crenças de outros sem se cair na intolerância?

Quanto a regimes laicos e ateus serem necessariamente repressivos e sangrentos, pelo menos na fase de instalação não conheço nenhum que o não tenha sido. O único (laicista) que me parece firmemente democrático é a França, mas só depois de muito tempo, e porque se foi tornando menos laico.

5:36 da tarde  
Blogger Rui Fernandes disse...

Bruno acho que confundes o anti-clericalismo e o ateísmo autoritário com o laicismo, que aliás não tem porquê ser ateu. Mas sendo ateu reconheço que o ateismo pode ser acusado da forma que fizestes que ironicamente é igual de simplista que as acusações que se fazem aos crimes das religiões. Mas provavelmente tu já sabias disso quando escrevestes o post.

8:26 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Rui

Para não nos ficarmos pelos simplismos: o que tem a dizer em relação aos dois últimos parágrafos do meu comentário anterior? É que me parece que respondiam já "sem saber" à sua objecção. (Além disso, não é verdade que os regimes laicistas militantes da França ou do México ou da Turquia fossem regimes ateus, e foram bem sangrentos. E os regimes ateus eram evidentemente laicistas: não havia qualquer espaço público, e muitas vezes até privado, para a religião.)

8:42 da tarde  
Blogger Rui Fernandes disse...

Antes de mais nada não sou contra a crença de ninguém. Sou ateu proselitista o que não quer dizer que seja militante no sentido em que usas o termo. Estou em contra de proibições absurdas como a francesa de proibição do uso de símbolos religiosos como o lenço islàmico. Acho realmente que aí atentamos contra a liberdade individual. Outra coisa é o ensino em escolas públicas de conteúdos religiosos. Estes são os limites do meu laicismo. Se quiseres confundes o laicismo com o laicismo autoritário que existe e aí tens razão mas não é o meu. Qualquer autoritarismo me provoca comichão.

11:21 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home