domingo, setembro 24, 2006

Três Encarapuçados

Ontem, sábado 23 de Setembro, dia do "soldado vasco", três cavalheiros com carapuças enfiadas até ao pescoço leram, em vasco, uma mensagem que deixou Zapatero com os cabelos em pé. O paladino da paz, como gosta que retratem, foi imediatamente humilhado por Rajoy que lhe pediu, e pediu também ao PSOE e ao Governo espanhol, que se regresse ao moribundo pacto antiterrorista.
E isto apenas pelo facto dos três cavalheiros terem dito, a dado passo, que havia que "seguir luchando firmemente con las armas en la mano hasta conseguir la independencia y el socialismo en Euskal Herria" (País Basco espanhol e francês e Navarra). É claro que um optimista poderá sempre dizer que as conversas entre Governo e terroristas estão num impasse e que este é apenas expediente legítimo encontrado pela ETA para tentar forçar a mão do Governo.No entanto, é capaz de não ser verdade. A resposta de Zapatero e a aflição evidenciada são o sinal claro de que a degradação do ambiente político em Espanha o está afectar e que a ETA, independentemente daquilo que é a sua agenda, percebe melhor que ninguém a fragilidade do Governo, como percebe que dificilmente será com Zapatero que negociará a paz - isto no caso de vir a negociá-la com alguém nos tempos mais próximos. Nos últimos tempos, e apesar das boas notícias que a economia espanhola não se cansa de dar, Zapatero sente grandes dificuldades. São estas provocadas, por exemplo, pelo impasse das negociações com a ETA, pelas revelações publicadas no El Mundo - às vezes parecendo inverosímeis mas não sendo necessariamente falsas - em torno das investigações sobre os ataques terroristas de 11 de Março e a forma como o actual Governo as parece ter ilegítima e ilegalmente influenciado, além das críticas e humilhações vividas por Espanha no domínio da política externa - veja-se a questão do combate pela UE à imigração ilegal. E ainda assim Zapatero reage. Mas fá-lo, sobretudo, na condição de um tipo ridículo: em público e diante de jovens nacionalistas da esquerda catalã, membros do seu partido, lançando avisos e absurdas ameaças à ETA criticando a "esquerda" vasca por não querer fazer política. Pena é que ninguém lhe explique que, naturalmente, a ETA só quer fazer política. Mas, naturalmente, a sua política. E se essa política implicar o regresso aos ataques terroristas não hesitará em fazê-lo. Sobretudo agora que a trégua dada pelo Governo de Madrid permitiu à ETA reorganizar-se e ganhar novo fôlego para novas batalhas políticas e militares.

5 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

"que deixou Zapatero com os cabelos em pé"

e a grande maioria dos espanhóis. uma pena.


"diante de jovens nacionalistas da esquerda catalã, membros do seu partido"

????
nao entendi. é pela primeira vez na minha vida que leio que os socialistas catalaes sao nacionalistas.

será que os da UPN também sao nacionalistas?


"Sobretudo agora que a trégua dada pelo Governo de Madrid permitiu à ETA reorganizar-se e ganhar novo fôlego para novas batalhas políticas e militares."

especulaçao pouco credível... mas legítima. para o demonstrar basta contar o número de etarras presos durante a trégua.

de qualquer forma um momento triste para os bascos e para os espanhóis.

2:59 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Calma, porque como se sabe, nacionalista não é sinónimo de terrorista. Ou seja, pode-se ser nacionalista de muitas maneiras. E os socialistas catalães são nacionalistas catalães. Ou será que são (só) nacionalistas espanhóis? Especulei com base naquilo que a (história) política nos ensina. E se é verdade que alguns - e não muitos - etarras têm sido presos durante a trégua, também é verdade que nem o Governo em Madrid nem o Governo basco querem que se prenda muita gente. Ou será que a "fiscalia" não tem sido pressionada politicamente para não agir, por exemplo, nos casos de extorsão? Finalmente, parece-me ingénuo pretender que uma organização como a ETA tem estado parada durante a trégua dedicando-se exclusivamente a negociar uma solução política para a questão nacional basca?
E agora uma pergunta directa minha/meu caro/cara anónimo/anónima. Por que razão acha Zapatero que sabe mais sobre a ETA e a questão basca do que todos aqueles que o precederam desde que Espanha é um regime democrático?

4:26 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

“Calma, porque como se sabe, nacionalista não é sinónimo de terrorista. Ou seja, pode-se ser nacionalista de muitas maneiras.”

Completamente de acordo.

“E os socialistas catalães são nacionalistas catalães. Ou será que são (só) nacionalistas espanhóis?”

Respeito a sua opiniao mas para mim o PSC nao é um partido nacionalista mas sim um partido catalanista. Nao vou discutir o que é ser nacionalista, porque seguramente perdia o debate por goleada, mas o programa do PSC está muito longe do programa de um partido nacionalista. Aproveito para recordar que o PSC é um partido distinto do PSOE (até já teve grupo parlamentar próprio em Madrid), por isso tem muito pouco de espanhol.

“Especulei com base naquilo que a (história) política nos ensina. E se é verdade que alguns - e não muitos - etarras têm sido presos durante a trégua, também é verdade que nem o Governo em Madrid nem o Governo basco querem que se prenda muita gente. Ou será que a "fiscalia" não tem sido pressionada politicamente para não agir, por exemplo, nos casos de extorsão? Finalmente, parece-me ingénuo pretender que uma organização como a ETA tem estado parada durante a trégua dedicando-se exclusivamente a negociar uma solução política para a questão nacional basca?”

Nao estou em desacordo mas também nao sou ingénuo ao pensar que entretando as forças de segurança do estado têm andando a dormir. Espero que tenham aprendido com os erros anteriores.

“E agora uma pergunta directa minha/meu caro/cara anónimo/anónima. Por que razão acha Zapatero que sabe mais sobre a ETA e a questão basca do que todos aqueles que o precederam desde que Espanha é um regime democrático?”

Desculpe a expressao, mas agora é que me lixou.
A minha humilde opiniao é que o Zapatero quis arriscar uma negociaçao num momento em que a ETA estava numa posiçao mais fraca. Possivelmente arriscou demasiado mas penso que nenhum outro presidente teve estas condiçoes incluindo tanto apoio na sociedade. Eu apoiarei sempre o presidente que queira tentar resolver, negociando com os terroristas (como o fizeram todos os presidentes da democracia), o problema em Euskadi. Ideologicamente comparto muito pouco com o Zapatero e o seu partido, mas no que diz respeito a este tema, e apesar dos erros que creio que cometeu até ao momento, vou estar sempre do lado do presidente do mesmo modo que o fiz com o José Maria Aznar.

Já agora deixe-me dizer-lhe que, além de leitor habitual, é sempre uma grande alegria para mim ler e poder comentar sobre política espanhola neste fantástico blog.


PS: nao comentei nada sobre a conspiraçao tipo Loose Change versao El Mundo do 11-M porque penso que nao merece comentários. Sobre o mal que essa história e os negócios de alguns está a fazer ao PP aconselho a leitura dos seguintes artigos:

http://www.abc.es/20060924/prensa-nacional-terrorismo/estrategias-cruzadas_200609240247.html

http://www.abc.es/20060918/prensa-opinion-firmas/zapatero-saca-paseo-fantasmas_200609180246.html

10:39 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Agradeço muito os elogios que faz aos amigos do povo.

12:51 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

em português é basco e não vasco.

12:33 da tarde  

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