sábado, janeiro 03, 2009

A seguir

Na edição de Sábado (3 de Janeiro de 2009), o Público, no suplemento P2, dá à estampa uma entrevista com o sociólogo francês François Dubet. Muito centrada nas revoltas de rua em França e na Grécia, a sua utilidade é escassa para o caso português, a menos que tomemos como fácil de emprego (o que é frequente, demasiado) a noção de «realidades da Europa do Sul». Seja como for, perto do final (penúltima questão, P2 p. 7), o facciosismo militante do jornalismo do diário brilha a grande altura, pelo que vale a pena prestar atenção. O entrevistado refere que (em França) a violência de rua se divide entre «a violência dos subúrbios, a violência desordeira» e «por outro lado», «a luta da extrema esquerda que está ligada ao movimento de globalização». Explicando este outro lado, o sociólogo refere o «black bloc que tem uma tradição de guerrilha urbana». O perigo dessas manifestações de jovens, segundo o entrevistado, reside neste segundo aspecto, o dos jovens violentos com estratégias. Mas, na resposta, inserida pelo jornal (pela entrevistadora ou por uma editoria? Por simples ignorância ou por facciosismo deliberado?), lemos o seguinte esclarecimento, imediatamente a seguir a «black bloc»: «[grupos informais, espontâneos, que se formam numa manifestação]». Esta contradição explícita com o afirmado pelo entrevistado não é inconsequente, e dá boa conta da isenção de quem editou a entrevista, na linha aliás de outras peças (vale a pena reler o que o mesmo jornal noticiou sobre o confronto de rua em Lisboa no 25 de Abril de 2007).
Numa altura em que tantos temem, e outros tantos anseiam, o ressurgimento de violência física na política, como as previsões para 2009 bem revelaram (maxime Mário Soares), o próprio título da entrevista é eloquente: «Entrámos num ciclo em que as revoltas dos jovens vão crescer». Sigamos então as revoltas e as notícias/análises das mesmas. Mas sem eufemismos: se em breve este blog voltar a ter links desfeitos por hackers, como sucedeu em Abril de 2008, isso poderá ser informal, mas não certamente espontâneo. Na altura, ninguém ligou. E eu não gosto de me repetir.

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