quinta-feira, março 23, 2006

Descolonizações? Não, obrigado!

Se há tema de que gosto é do colonialismo europeu em África, das descolonizações africanas e do estudo comparado dos colonialismos e das descolonizações. O comentário do João Miguel Almeida ao meu post da semana passada e ao comentário breve mas muito acertado do Luís Aguiar Santos, permitem-me voltar ao assunto. Não percebi até que ponto pensa João Miguel Almeida que aquilo que depois da descolonização se passou em África – e em particular na África portuguesa – é consequência do comportamento lastimável das elites e das massas que se espalham por aquele continente. Mas parece-me óbvio que é totalmente destituído de razão pensar que as guerras civis em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, pós-1974, tiveram alguma coisa que ver com a especificidade da colonização portuguesa, ou com o facto da descolonização, também portuguesa, ter sido feita tardiamente. Veja-se, desde logo, que praticamente todos os países africanos a sul do Saara, descolonizados nas décadas de 1950, 1960 ou 1970, têm conhecido uma profunda instabilidade político-militar, agitação social, decadência económica, empobrecimento generalizado, massas brutalizadas, elites infinitamente corruptas. Compare-se, por exemplo, ou imagine-se, aquilo que era Coreia do Sul em meados da década de 1950, depois da guerra civil e de uma ocupação japonesa de décadas, incomparavelmente mais violenta do que aquela que os europeus tinham levado a cabo em África, mesmo contando com aquilo que se passou no Congo belga e da futura Namíbia, e aquilo que era o Ghana em vésperas da sua independência. Veja-se agora aquilo que é a Coreia do Sul e a aquilo que é o Ghana. Lamento dizê-lo, pensando nas almas mais sensíveis, mas considero que a decisão tomada por Salazar de que Portugal deveria continuar em Angola e, depois, em toda a África portuguesa, foi uma decisão acertada, pelo menos do ponto de vista dos interesses dos africanos portugueses. É certo que deu de bandeja à metrópole uma guerra colonial durante treze anos, uma guerra com apreciáveis custos sociais, económicos e humanos. Mas, paralelamente, comprou igual período de tempo de paz relativa, de estabilidade social e de progresso económico em territórios como Angola, mas, também, na Guiné, e em Moçambique. Para mim, e olhando para aquilo que se passou no Zaire, antigo Congo Belga, desde 1960 e até há meia dúzia de anos, não posso deixar de achar que o caso de Angola não é mais do que o exemplo claro de que a sua descolonização tardia permitiu impedir que ali se tivesse passado aquilo que se sucedeu no Zaire logo desde 1960. Guerras civis, massacres de populações negras por outras populações negras, destruição do Estado colonial e sua não substituição por qualquer coisa de útil e civilizada, intervenção militar estrangeira, interferência da ONU, poder indiscriminado nas mãos de militares, etc., etc. Ora em Angola, entre 1960 e 1974, e com excepção de 1961, aquilo que houve foi um conflito militar de baixa intensidade. Sendo certo que custou vidas tanto a africanos como a portugueses, a par da guerra o território conheceu um enorme desenvolvimento económico, político e cultural. A partir de 1974, a guerra civil teve um enorme custo em vidas humanas, já para não falar na regressão económica, social, cultural e política que provocou. Diria mesmo mais: o autoritarismo de Salazar e de Caetano era indiscutivelmente sinistro. Porém, aos olhos daquilo que existe politicamente em Angola desde 1974, o salazarismo e o marcelismo eram regimes respeitabilíssimos. Veja-se agora o caso de Moçambique. Aí a guerra colonial começou em 1964. O principal apoio externo directo vinha da Tanzânia, país africano de cuja história João Almeida tem uma agradável impressão. Diz que não conheceu guerras civis e que hoje é um país pobre, onde se vê pobreza, tal como em Portugal, mas não miséria. Um bocado como o Portugal de Salazar. Pobre, mas não miserável. Pobre, mas honrado e suponho que razoavelmente limpo. A afirmação do João Miguel Almeida faz-me pensar porque razão é que naquele que é um dos países mais pobres do mundo não se vê miséria nem, aparentemente, grandes diferenças na distribuição da riqueza, fenómenos tão típicos não apenas noutros países do continente africano mas, também, e segundo algumas opiniões, em Portugal. Será que o João não viu miséria, não quis ver miséria, ou não o deixaram ver miséria? Mas mais importante de tudo, a história da Tanzânia depois da descolonização é tudo menos um bom exemplo. Nyerere, o pai da independência e da nação tanzaniana, com a sua visão muito pessoal daquilo que devia ser o socialismo africano aplicou, durante toda a década de 1960 e 1970, uma série de políticas cujos resultados para as populações, para a economia, para a sociedade, para o sistema de ensino, e por aí fora, foram idênticos aos de uma guerra civil à maneira clássica (veja-se Joshua Muravchic, “Ujamaa: Nyerere Forges a Synthesis” in Heaven on Hearth: The Rise and Fall of Socialism, Encounter Books, 2002, pp. 198-226). A Tanzânia, que não era um país miserável antes da independência, transformou-se, rapidamente, graças à esclarecida marcha para o socialismo definida e imposta por Nyerere e tão apreciada por Nuno Teotónio Pereira, num dos mais miseráveis países do mundo. E se Moçambique, até 1974, conheceu também o seu milagre económico, pôde beneficiar, depois da independência, do esclarecido governo da FRELIMO e da esclarecida liderança de Samora Machel. A construção do socialismo, primeiro, e a guerra civil, depois, levaram Moçambique muito para trás daquilo que tinha sido quando Portugal lhe pegou.Finalmente, vale a pena recordar que dos três derradeiros países da África negra a atingirem a independência (Rodésia do Sul, Namíbia e África do Sul), apenas no primeiro a situação se tem deteriorado muito nos últimos anos, enquanto que nos outros dois, e por enquanto, a experiência de transferência do poder das mãos de uma minoria branca para uma maioria negra não causou ainda acontecimentos com resultados políticos, económicos ou sociais globalmente negativos. Isto parece querer dizer que quanto mais tarde tal transferência aconteceu, maiores foram os resultados positivos e menores os negativos e que portanto o grande erro – talvez inevitável –, cometido pela Europa em relação a África foi não ter querido e/não não ter conseguido prolongar por mais meio século uma colonização que se iniciara, de facto, depois da Primeira Guerra Mundial.

8 Comments:

Blogger João Miguel Almeida disse...

Caro Fernando Martins,

Um primeiro comentário rápido, pois, ao contrário de ti, não me tenho debruçado sobre a História dos colonialismos e das descolonizações. Espero, portanto, que o teu post dê origem a um debate, não só nesta caixa de comentários, mas também em toda a blogosfera.
O meu comentário foi uma reacção à insinuação, mais do Luís do que tua, de que os homens e mulheres que lutaram em Portugal contra o colonialismo deviam ter problemas de consciência. O que me parece absurdo, pois foi uma luta arriscada e generosa, que nalguns aspectos hoje nos pode parecer ingénua, mas que se fazia no condicionamento de uma ditadura com censura, que não admitia discutir o tema - vide demissão de Miller Guerra da Assembleia Nacional.
Como referi no meu comentário, a questão não é só o colonialismo, mas a forma como este foi feito, sem admitir, mesmo teoricamente, uma transição para a independência e uma preparação de elites africanas para tomar o poder.
Pela parte que me toca da visita à Tanzânia, acho até ridículo pensar que «não quis ou não me deixaram ver» miséria. Não fiz a viagem com qualquer motivação ideológica. É um país muito frequentado por norte-americanos, sul-africanos, australianos, europeus, etc. A água mineral do Quilimanjaro é explorada pela Coca-cola. Foram os próprios habitantes de Arusha, dedicados a pequenos negócios relacionados com o turismo, que me procuraram transmitir uma imagem positiva do seu país. Pode-se pôr a questão de se tratar de uma idiossincrassia nacional, de os tanzanianos serem «os espanhóis de África», mas garanto-te que dizem bem do seu país. Qualquer turista chega a esta conclusão.
Que a Tanzânia não teve uma guerra civil é um facto.
Estranho tantos elogios a Angola. Moçambique, em muitos aspectos, parece-me melhor.

7:25 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Se os Angolanos e os Moçambicanos fossem espertos e inteligentes acabavam com a Língua Portuguesa e começavam todos a Falar/Escrever/Pensar/Imaginar/em INGLÊS!

Porquê?

? Porque é que nós Portugueses somos um Povo Doente, Triste, Coitado, Inculto e Atrasado, Doente?

Exemplo simples. “TrabalhaDôr" versus “WorkPain”.

A palavra “TrabalhaDôr" em inglês lê-se/escreve-se “Worker”. Já imaginás-te se ela se lê-se/escrevesse “WorkPain”. Até os Americanos e/ou Finlandeses seriam muito mais atrasados que nós.

Ou ainda “Ih-Nova-Dôr” / (“Ih-New-Pain”)

Aqui vai mais um texto pequeno elucidativo da culpa da Língua Portuguesa.

Os Portugueses começam o dia, logo pela manhãzinha, ao som do “Desperta Dôr”.

De manhã, logo ao começar do dia, começam a ouvir: “Desperta Dôr”. Está na hora. “A Corda” (parece que vai ser enforcado).

Leva o filho para o Infantário e entrega-o ao “Educa Dôr” dele.

A 2 quilómetros da Fábrica o carro avariou. Era problema no “Carbura Dôr”.

Chegou atrasado ao trabalho e teve que ir falar com o “Admninistra Dôr”. Este disse-lhe que com tantos atrasos o caso dele era “Preocupa Dôr” e que assim o “Emprega Dôr” podia dispensá-lo. Por isso, “Dôr Avante” veja se é “Cumpri Dôr” dos horários.

No trabalho (é “Desenha Dôr” e trabalha num “Estira Dôr” )ouve dizer que tem que ser: “Trabalha Dôr”. E que para ser “Ih Nova Dôr” tem que pensar. Ou seja, tem que ser “Pensa Dôr”.

No fim do dia de trabalho, chegam ao “Pré Dio” já cansados e carregam no botão para chamar o “Eleva Dôr”.

À noite, devido ao frio (más construções) tem que ligar o “Aquece Dôr”.

Vai pôr o filho a dormir e diz-lhe que ele é “A Dor a Dôr”.

De madrugada, por volta das 3h da manhã, quando finalmente “A Dor Meço” – com a ajuda de Xanax – eu lá “Dôr Mia”.

E no dia seguinte, por volta das 6.30h (é ”Madruga Dôr”), lá está novamente o “Desperta Dôr”.

? Porque é que nós Portugueses somos um Povo de Bandidos (***)?

Traidor / Saqueador / Maltratador / Salteador / In-Cumpridor / Enganador / Burlador / Adulterador / Corrompedor / Escravizador / Fugidor (de Impostos) / Mau Pagador

(***) a Língua Portuguesa é que origina a maior parte dos Bandidos.


SOLUÇÃO PARA OS PORTUGUESES DEIXAREM DE SER COITADINHOS:

Acabar com a Língua Portuguesa e começar tudo a Falar/Escrever/ Pensar/Imaginar em Inglês.

E assim ficariam “Elegantes”. Ver figura em http://madrigal.blogs.sapo.pt/654.html


Ver mais em “As PALAVRAS ÚTEIS Portuguesas estão, PRACTICA-MENTE, todas XUNGADAS!”, http://eunaodesisto.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_12.html#870309

EXTRAS:

1 – Canadá despede Emigrantes Portugueses que não saibam Inglês.
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1251467&idCanal=95

2 – “Avião da TAP falha pista em São Paulo” http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=193489&idselect=10&idCanal=10&p=94


mauricio_102@sapo.pt

7:43 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Meu caro João. A Tanzânia é um dos países mais pobres do mundo. É-o muito mais hoje do que era no ano em que foi proclamada a independência. A primeira causa desse facto foram as políticas criminosas levadas a cabo pelos seus líderes políticas nas primeiras décadas após a dita independência. Isto foi assim em toda a África sub-saariana. Poder-me-ão dizer que tal era inevitável. Não penso dessa maneira. Por outro lado, devo dizer que não tenho qualquer simpatia por Angola ou por Moçambique, embora, à partida, tenha toda a simpatia por angolanos, moçambicanos, espanhóis, franceses, norte-americanos, marroquinos, turcos, etc..

11:02 da tarde  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Caro João, acho, de facto, que muita gente que advogou o abandono dos territórios ultramarinos deveria ter uma visão mais crítica das suas posições passadas. Essas pessoas, quando não estavam pura e simplesmente a fazer o jogo político da União Soviética, foram extremamente ingénuas, achando - como achavam - que tudo se resumia a uma guerra entre portugueses e africanos. A questão, como (com todos os seus defeitos) o sabiam Salazar e Caetano, era que quando Portugal saísse outras potências exerceriam uma influência provavelmente pior sobre aqueles povos, como aconteceu. Por outro lado, foi também ingénuo pensar que a liberdade dos africanos passava apenas por serem governados por outros africanos - o que se constata agora que não é verdade (e já havia quem avisasse que isso não seria assim, normalmente gente que conhecia a realidade daquelas sociedades). Ou seja, não estando Portugal isento de muitos erros na sua administração, a "descolonização" era algo de muito mais complexo do que diziam os militantes anticoloniais portugueses, que, na realidade, com a sua solução fácil de simplesmente advogarem a saída dos portugueses, contribuíram muito pouco ou nada para a felicidade e a liberdade das populações das antigas províncias ultramarinas.

11:43 da tarde  
Blogger João Pedro disse...

Desculpem, mas não haverá aí um pouco de "paternalismo"? A ideia de que sem os colonizadores originais os autóctones não seriam capazes de se governar a si próprios? Concedo que quase toda a África sub-sariana teve poucas razões para rir (a não ser para algumas elites no poder), mas a solução não tinha necessariamente de passar por uma mera colonização prolongada. E houve casos de países que conseguiram sobreviver de forma satisfatória, como o Senegal. Em compensação, a Libéria nunca chegou a ser colonizada pelos europeus e nem por isso deixou de ser um dos mais tocantes exemplos de um país à deriva, minado pela guerra e pela fome (este último exemplo pode parecer contraditório, mas não é).
A origem dos males está mesmo na Conferência de Berlim e nas suas estapafúridas divisões a régua e esquadro.

12:39 da manhã  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Caro Fernando e Luís,

O tema é complexo e estou com pouco tempo. Espero que outras pessoas comentem o post e que tenham opiniões diferentes da vossa. O post do Fernando é uma mistura de visão histórica, juízos morais e um ataque pessoal. Foi assim que senti essa do «não vi ou não me deixaram ver». Como se eu fosse uma espécie de André Gide que não escrevesse o seu «Retour de Tanzanie» a denunciar um regime despótico. A mim ninguém me pagou para fazer a viagem ou escrever bem do país. Usei poupanças pessoais (inclusive levantei certificados de aforro) como fazem os milhares de europeus, norte-americanos, australianos, sul-africanos, etc que todos os anos visitam a Tanzânia. No fim-de-semana terão um post extenso sobre as minhas observações do país. Espero que, entretanto, a discussão se alargue.
PS Adianto já que concordo com a parte final do post do João Pedro. E que superioridade é essa dos europeus? A morte recente de Milosevic devia lembrar-nos do que na década passada aconteceu na Europa devido a conflitos nacionalistas e religiosos.

1:58 da manhã  
Blogger João Miguel Almeida disse...

O prometido post sobre a minha viagem à Tanzânia vai levar algum tempo a sair, mas adianto já que, mesmo que me provassem que o rendimento per capita da Tanzânia era inferior ao da Somália, continuava a considerar a Tanzânia um melhor país. Só algumas notas:
1. Reduzir os movimentos de libertaçao africanos aos apoios que recebiam de países como a URSS é simplista. Esses apoios também eram dados ao ANC de Nelson Mandela. E os resultados políticos foram muito diferentes.
2. É uma falácia ver nos líderes africanos meros instrumentos soviéticos. Veja-se o caso de Angola: a URSS entrou em colapso há 15 anos e José Eduardo dos Santos continua a ser o Presidente.
3. Muitas das pessoas que se bateram, durante a ditadura, contra o colonialismo português continuaram, durante a democracia, a lutar pela libertação de Timor-Leste. Se tudo tivesse corrido mal também as podiam acusar agora de excesso de idealismo ou ingenuidade. Mas não, ninguém critica os activistas da libertação timorense, apesar de Timor-Leste ser um país pobre. Aliás, o amigo que me acompanhou na viagem à Tanzânia já esteve em Timor-Leste e achou os dois países parecidos em muitos aspectos. Mas talvez o Fernando explique o êxito da transição de Timor-Leste para a independência pelo facto do colonialismo indonésio se ter prolongado até 1999...
4. O «fardo do homem branco» é uma falácia. É o que pensem os tailandeses, que se orgulham de nunca ter sido colonizados. Eu já estive na Tailândia e é dos países mais desenvolvidos da região.
Até parece que sou muito viajado ou que faço «viagens de estudo» com motivação ideológica. A realidade é bem mais simples. Achei que devia começar a viajar, fora da Europa, pelos países que oferecem maior segurança aos turistas. E deixar os países mais arriscados para quando tivesse maior taquejo. Acontece que a Tailândia é dos países mais seguros da Ásia. O mesmo se aplica à Tanzânia em relação à África subsaariana.

9:26 da manhã  
Blogger Gabriel Silva disse...

Discordo de bastantes coisas deste post. Não li os anteriores.

«considero que a decisão tomada por Salazar de que Portugal deveria continuar em Angola e, depois, em toda a África portuguesa, foi uma decisão acertada, pelo menos do ponto de vista dos interesses dos africanos portugueses».

Não me parece que tal «ponto de vista» seja muito relevante. Dizer que as camadas populacionais colonizadoras tinham mais a ganhar em manter a situação do que os colonizados, sendo evidente, não acrescenta qualquer bondade ou razoabilidade a tal decisão.

Julgo que a decisão de Salazar, a médio prazo, provou ser contrária aos interesses desses mesmo colonizadores. Veja-se como os mesmos sofreram as agruras não só da guerra, como especialmente a forma como tiveram que sair.

Caso se tivesse levado a cabo um processo transitório, controlado, com vista à independência política (que não necessáriamente económica, nem do ponto de vista de recursos humanos), provavelmente os seus interesses teriam sido melhor salvaguados. E claro, os interesses (legítimos) das populações locais.
Os processo políticos são sempre melhores do que os puros processos militares, como foi o caso.

concordo com este ponto:
«Mas parece-me óbvio que é totalmente destituído de razão pensar que as guerras civis em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, pós-1974, tiveram alguma coisa que ver com a especificidade da colonização portuguesa, ou com o facto da descolonização, também portuguesa, ter sido feita tardiamente.»

Sou de opinião e julgo que os historiadores dão razão, ao facto de tais conflitos terem sido fomentados, incentivados, apoiados ou mesmo geridos com base em interesses e linhas de conflito resultantes da «guerra fria« e de interesses estratégicos globais/regionais.

«porque razão é que naquele que é um dos países mais pobres do mundo não se vê miséria nem, aparentemente, grandes diferenças na distribuição da riqueza, fenómenos tão típicos não apenas noutros países do continente africano»

Desculpem, mas existe e é bem visível.

Na apreciação do que se passou com a Rodésia do Sul, Namíbia e África do Sul, julg ver reforçado o meu pontod e vista anterior. Os processos políticos dão melhor resultados e permtiram, nesses casos, a manutenção das estruturas económicas/Estado pré-existentes, com todos as vantagens para ex-dominadores e ex-dominados.

Mas tais processos são substancialmente diferentes da «descolonização», não se podendo, quanto a mim, concluir que «Isto parece querer dizer que quanto mais tarde tal transferência aconteceu, maiores foram os resultados positivos e menores os negativos e que portanto o grande erro – talvez inevitável –, cometido pela Europa em relação a África foi não ter querido e/não não ter conseguido prolongar por mais meio século uma colonização que se iniciara, de facto, depois da Primeira Guerra Mundial.»

É que nesses 3 países não se processou nennhum processo de descolonização. Tais países eram independentes (excepto Namíbia, colónia Sul-Africana), dominadas por um maioria branca. Ora, uma caracteristica dos processos coloniais (todos) é que nestes existe uma minoria dominante que é ou se assume como exteiror ao teririório, orginária maioritáriamente do país colonizador, ou com ela identificado. Na Rodésia e na africa do sul tal não se passava. Os brancos que dominam não eram estrangeiros, eram nacionais desses países. Isso fez toda a diferença.
Enquanto nas colónicas os dominantes não eram naturais ou não se identificavam com o país onde estavam mas com o da sua origem, podendo sempre «regressar», o que fazia com que quem lutava contra eles sempre tivesse uma posição de «expulsão».Tal não incentivava nenhuma das partes a negociar, pois que a solução só poderia ser de facto a saída ou a permanência à força.
Na Rodésia e na RAS, as minorias brancas não tinham para onde ir, eram, dominantes e dominados, todos do mesmo país. Tal levou gradualmente à consciência de ambas as partes da necessidade de entendimento, o que se veio a concretizar, sendo que a negociação possibilitou transições mais pacíficas e sobretudo, de cotinuidade.

Por mim concluo num sentido diferente. Uma vez que os territórios portugueses não dispunham de quadros/classe média autóctenes capazes de assegurarem por si uma transição ou assumirem a gestão da sociedade, a única via alternativa teria sido a independência assumida pelas comunidades brancas. Pelo menos é o que o exemplo da Rodésia/RAS demonstram. Tal processo seria transitório para uma futura passagem do poder à maioria africana local.
Simplesmente, como quase sempre, os portugueses começaram as coisas 50 anos atrasados. A aposta no desenvolvimento de infra-estruturas e de efectiva colonização começou 50 anos atrasados, apenas depois da IIWWW. Tal atraso, impediu o decorrer de tempo normal para a existência de uma segunda ou 3ª geração de brancos dispostos a assumirem-se como africanos. Quando começaram a pensar no assunto, era tarde demais.

Uma última nota. sobre o processo de descolonização: não havia alternativa. Nem os soldados tinham condições de continuar a lutar, nem as condições exernas o permtitiam, e sobretudo, os portugueses tiveram que optar pelo que lhes era mais importante: assegurar e consolidar um processo de democratização e de liberdade no seu próprio país. Cruamente, os outros que se arranjassem. É lamentável que se tenha chegado a esse ponto, mas foi isso que se passou. E a responsabiliade é inteiramente de quem não entendeu que apenas com um processo negocial poderia ganhar tempo e encontrar uma solução mais pacifica: Salazar.

2:36 da tarde  

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