Reflexão externa: o Irão nuclear explicado a crianças e adultos
Este meu pequeno «inquérito» ia pouco para além de combater a ideia de que um Irão ameaçador tão popular no Ocidente levanta alguns problemas em termos dos factos. Só me faltou mesmo referir a terrível campanha terrorista anti-regime no Irão nos anos oitenta, com apoio do Iraque e do Ocidente, ou a destruição (acidental) de um avião civil iraniano pelas forças americanas no Golfo. O Paulo diz com razão que a ambição de ter a bomba é anterior a este presidente. Atribuía ao regime. E tem alguma razão. Mas ela vai para além do regime. É uma ambição nacional. E que resulta dos iranianos se sentirem inseguros, se sentirem objecto de repetidas agressões externas. E eles são muito nacionalistas.
Não tenho nenhuma simpatia pelo actual presidente do Irão e pelos seus apaniguados. Mas no fundo o (meu) problema com o Irão de Ahmadi-Nejad é ser demasiado parecido com os EUA de Bush. Demasiado nacionalista. Demasiado unilateralista. Demasiado peso de Israel na política interna. Demasiados fundamentalistas com peso político. A eleição de Ahmadi-Nejad é, em todo o caso, a segunda verdadeira alternância de poder no Irão. Que é mais do que se pode dizer da maioria dos aliados dos EUA na região. Imaginar que mais democracia vai fazer com que o Irão, ou outros países do Médio Oriente, sejam mais amigo duns EUA com as políticas actuais é uma miragem.
Como refere Ken Waltz, um Saddam ou um Mao ou um Kim Jong Il poderão ser loucos, mas são certamente sobreviventes. Parece improvável que este tipo de líder faça algo de suicida. Veja-se a China durante a Revolução Cultural. É difícil imaginar situação de maior caos ou fanatismo revolucionário. No entanto as armas nucleares continuaram por disparar.
Mas um Irão nuclear não será especialmente grave pelas suas consequências no Médio Oriente? Em termos da geopolítica do Médio Oriente as consequências parecem escassas. Israel há muito que tem bombas nucleares em grandes quantidades. Nem por isso é capaz de dominar o Médio Oriente. Mas é certamente bem capaz de dissuadir o Irão (um conceito chave na estratégia nuclear que está a ser esquecido). Mais, o facto de Israel ter a bomba há muito que leva os países da região a tentar obtê-la. Não é preciso o Irão para isso.
Além disso a ideia de uma invasão iraniana de qualquer país do Médio Oriente é difícil de conceber. O Irão é persa e xiita. Sabe que qualquer agressão sua levantaria contra ele todo o Mundo Árabe e Sunita. Mais, invadir o quê? O Iraque? Para quê? Graças aos EUA, o Irão tem hoje uma posição mais influente do que nunca no país vizinho.
Entregará o Irão o nuclear a terroristas? Não há razão nenhuma para pensar que quisessem avançar para uma escalada dessas. E tendo em conta o número limitado de fontes de nuclear, ela poria em grande risco o regime de Teerão. A probabilidade disso acontecer é, por isso, bem maior em países com grandes arsenais e grandes problemas financeiros como a Rússia. E uma bomba suja não exige, infelizmente, grande quantidade de material nuclear.
Quais são então as possíveis respostas? Não existem respostas boas e politicamente fáceis. Daí a Europa ter sido empurrada para a frente pelos «homens fortes» de Washington. O poderio militar, mesmo dos EUA, não serve para confrontar e controlar um Estado bem organizado, populoso e vasto como o Irão. E os americanos estão até ao pescoço na confusão do Iraque. Mesmo se os EUA se limitarem a bombardeamentos e acções de forças especiais arriscariam a retaliação iraniana no Iraque. Sanções? Para serem a sério teriam de incluir o petróleo. Já imaginaram o que isso significaria em termos da subida do preço do dito e impacto económico no Ocidente?
Sobretudo os conservadores iranianos colocaram-se numa posição de ganhar sempre. Se houver uma acção hostil – militar ou de quarentena económica e diplomática – ganham pela via da agitação nacionalista e do isolamento do país. Se não houver nada de eficaz reforçam a sua posição.
A alternativa é oferecer algo que o Irão há muito vem pedindo e que talvez nem sequer Ahmadi-Nejad consiga recusar. Reconhecimento diplomático e relações normais com os EUA. Garantia pública de não-agressão. Mas o mais provável, por razões de política interna americana, é vivermos num impasse tenso e custoso, com escasso impacto no avanço do programa nuclear, e de que a culpa fundamentalmente – desde logo por não ter aceite a mão estendida publicamente pelo anterior presidente Khatami – é dos EUA. Que mais uma vez não perdeu uma oportunidade de perder uma oportunidade de reforçar os moderados no Irão. Ou talvez Israel resolva o problema, se ele for realmente sério.
2 Comments:
O problema do nuclear no Irao e' complicado. No entanto, ainda mais complicada e' a questao do cumprimento dos acordos com vista ao desmantelamento dos arsenais nucleares por parte dos paises que os possuem. Esse e' o problema crucial; se nao fizermos progressos nesse sentido, iremos viver num planeta com dezenas de estados com armamento nuclear. Agora, facam a analise de probabilidade de, nessas circunstancias, armas nucleares virem a ser utilizadas - por engano, ou nao. Este exercicio talvez ajude a colocar em perspectiva a questao do Irao.
O simbolismo de um País abertamente hostil á "ordem" (ler regras geralmente aceites) ter sucesso na produção de armas nucleares não haja dúvidas seria na prática o FIM da "Ordem."
Na linha de partida:
Os Sauditas
Os Egipcios
Os Líbios
Os Italianos
Os Espanhóis
Os Japoneses
Os Taiwaneses
Os Coreanos
Os Brazileiros
Os Argentinos
Os Turcos
Seria o fim da erradamente chamada "hiperpotência" EUA que na verdade tem muito menos poder que nos anos 50 ou 60 mas que ainda controla os aliados e se controla a si própria.
Se o sistema por incapacidade de acção dos membros que estão mais interessados na sua estabilidade se tornar instável muitos membros deixarão de ter INTERESSE em preservar o Status Squo uma vez que o investimento (que tem custos) nessa estabilidade não dá retorno.
Nota: este texto era suposto ter sido colocsado ontem mas por qq razão não me deixava.
lucklucky
Enviar um comentário
<< Home