sábado, outubro 28, 2006

Telepropaganda

Muito raramente vejo os agora muito afamados, comentados e analisados “telejornais” das 20 horas. Hoje, como excepção à regra, lá parei uma meia-hora diante da televisão para ver o telejornal da RTP. Sensibilizou-me muito a reportagem em que aparecia uma jovem (?) jornalista mal vestida, com uma cabeleira loira artificial horrível, de corpo flácido e caixa de óculos como eu, a repetir três ou quatro vezes que o caminho de ferro tinha chegado a Portugal com, salvo erro, vinte anos de atraso em relação à “Europa”. Presumo que a toda a Europa, de Badajoz aos Urais. Mas esta insistência num facto que não é verdadeiro trazia água no bico. Era campanha descarada a favor da introdução – defendida por este Governo – do “TGV” em Portugal. É que imediatamente a seguir à peça sobre os 150 do caminho de ferro cá do burgo pôde-se, durante uns bons minutos, apreciar uma peça jornalística – na verdade de propaganda – sobre a cerimónia em o ministro Lino, se não me engano, falava da introdução do comboio de alta velocidade em Portugal e que tanta oposição e discussão tem gerado. Eu sei que posso parecer o Pacheco Pereira ou o Eduardo Cintra Torres – dos pobrezinhos ou dos mentecaptos –, mas assistir a cerca de 30 minutos de telejornal na RTP 1 foi muito instrutivo.
Mas como se não bastasse o trem, ainda ouvi e vi numa outra reportagem o ministro António Costa dizer olhos nos olhos aos portugueses, através da mesma RTP, que a culpa pelos estragos produzidos pelo do mau tempo há três ou quatro dias devem ser certamente de todos menos do governo. A culpa, que agora para os socialistas deixou de poder dormir solteira, foi, evidentemente, dessa canalha que são os autarcas. É claro que, no fim, o ministro disse que não sabia de quem era culpa e que a investigação que está a decorrer ou que irá acontecer tratará de, e de modo independente, apurar o nome dos responsáveis. Mas assim como antes tinha dito que o responsável era o poder local, também garantiu que a Protecção Civil, que depende do MAI, está inocente. Gosto de ministros assim. Matam logo à partida qualquer possibilidade de neles se poder vir a depositar qualquer esperança.

3 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

A culpa neste Portugal desgovernado é uma mulher condenada a morrer solteira e, acima de tudo, virgem. A descrença generalizada que temos nos políticos, na política - brevemente também no sistema político - não pressagia nada de bom. Talvez por culpa nossa...

12:27 da manhã  
Blogger bruno cardoso reis disse...

A protecção civil é coordenada pela MAI através dos governadores civis, mas existe um sistema de protecção civil municipal.

E é verdade que houve sítios onde a protecção civil municipal mediu níveis de água, extraiu lições do passado e avisou e ajudou a tempo a prevenir o pior (caso de Tomar), e outros onde isso não suceude.

Mas realmente é pouco português pensar que alguém pode ser responsável, para além da corja dos políticos do Terreiro do Paço.

12:27 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Bruno, para este governo a corja responsável nunca está no Terreiro do Paço. Está sempre na provínicia ou na oposição (presumindo que uma e outra ainda existem).

3:52 da tarde  

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