Amor e Ano Novo
No mês que agora acaba com 2006, convenci-me, por causa da companhia, a ver um típico «filme de gajas», o fraquinho O amor não tira férias. Talvez não por coincidência, vi também há três dias, em DVD, o clássico Holiday, em português A Irmã da minha noiva. O filme é de 1938 e foi realizado por George Cukor, juntando Cary Grant e Katharine Hepburn. Ambos os filmes são comédias românticas situadas cronologicamente em passagens de ano. Também aqui não haverá coincidência, pois O amor não tira férias cita explicitamente as estrelas do cinema clássico norte-americano, ao pé das quais faz figura de lanterna meio fundida. Além das peripécias amorosas, parte da piada do filme, para mim, consiste na «crítica romântica ao capitalismo». A personagem de Cary Grant representa o típico self-made man. Trabalha desde os dez anos e, ao chegar aos trinta, pensa que, após ganhar o seu primeiro milhão de dólares, deve parar e fazer uma viagem pelo mundo com a noiva. Esta e o sogro (um importante empresário) arrepiam-se com esta inesperada «confusão», ao contrário da irmã da noiva (Katharine Hepburn). O desfecho é previsível. O enredo fará sorrir de uma idade de oiro e ingénua, que pouco terá a ver com estes tempos sombrios. Eu chamo a atenção para a data do filme: no ano seguinte começa a II Grande Guerra. A energia e optimismo das pessoas que fizeram o sucesso daquele filme seriam em breve duramente postas à prova. Cada um é livre de fazer as extrapolações que quiser. Cukor vê-se bem nos últimos ou primeiros dias de um ano. Mas o meu rito de passagem será de inspiração felliniana. Seja como for, bom Ano Novo.