quinta-feira, janeiro 31, 2008

Depois de mais uma volta pelo CCB

Visitei pela primeira vez a Colecção Berardo há uns dez anos, em Sintra, no museu que foi casino, que foi sala de ensaios, que foi liceu, que foi cinema, que foi repartição de finanças. Penso que foi a esse arremedo de nostalgia áulica projectado por Norte Júnior que, também pela primeira vez, de moto próprio, sem pais, professores ou amigos mais velhos, me abalei para decidir que pensar das artes visuais e plásticas contemporâneas. Não decidi nada, claro. Até hoje, na verdade, não sei bem que pense. Cabe-me à larga a carapuça do cidadão médio que, não obstante escolarizado e sofrivelmente viajado, se sente praticamente incapaz de empatizar com autores e obras dos últimos trinta, quarenta anos. Correntes ou famílias como o pós-minimalismo, o neo-conceptualismo, a appropriation art, etc, provocam-me uma enorme sensação de vazio, por vezes mesmo de frustração. A irritação (por vezes com recurso à verbalização em voz alta) é atingida quando a falta de empenho técnico [como se diz mestria, engenho, hoje?] é evidente. De largo em largo, lá encontro obra que me desperte mais que curiosidade sensorial, como a de Bill Viola. Por isso mantenho a pretensão de achar que um não-crítico, não-académico e não-membro-do-meio há-de poder sentir-se interpelado por um objecto de arte do seu tempo. Continuarei a tentar.

[Imagem: cartaz alusivo a uma exposição de videogame art, encontrado na agenda da Wooster Collective]

sexta-feira, janeiro 25, 2008

O Povo é Sereno? É só Fumaça? (Neo-Engraçadismo # 1)


Vivemos um debate existencial em Portugal. Parece que a lei anti-tabaco pode levar à restauração do “regime fascista”! Será só fumaça?

Antes de responder, uma declaração de interesses – fumador ocasional me confesso, mas sobretudo passivo. Activo só de charuto (ou cigarrilha, no mínimo). É que gosto do meu tabaco saudavelmente biológico. Além disso não poderia deixar passar uma oportunidade de mostrar a minha solidariedade fair trade pelo Terceiro Mundo em geral, e Cuba em particular. Infelizmente as ocasiões de mostrar o meu exibir o meu empenho internacionalista escasseiam.

Quanto à lei. É certo que se trata de nos aproximar do resto da civilização. Uma das imagens de marca de Londres são os fumadores a decorar os beirais dos edifícios de escritório. Este é um campo em que Lisboa já pode competir com a metrópole britânica.

Sinceramente não creio que se corra o risco de cairmos no nazi-fascismo por via do anti-tabagismo. É que, por um lado, Hitler nunca foi tão longe na sua campanha contra o tabaco – portanto, quando muito cairemos em algo ainda pior. Por outro lado, já temos auto-estradas e Mercedes (outras imagens de marca do regime nazi). E se é verdade que matam muita gente, não tiveram efeitos assinaláveis (até ver) na solidez do regime democrático.

Mas que fique claro: é uma lei desnecessária e politicamente arriscada. Politicamente arriscada pois o governo deveria apreciar a elevada percentagem de fumadores compulsivos entre jornalistas e comentadores, havendo ainda que considerar o impacto orçamental da medida – menos impostos, mais reformados por mais tempo. Há ainda que considerar o impacto da medida na coligação do PS com o Bloco em Lisboa.

Sobretudo, é uma lei desnecessária. Porque também eu sou a favor de se confiar na civilidade, no bem-senso, no bom-gosto, na serenidade dos portugueses. Mas, enfim, parece que é a vez dos portugueses fumadores confiarem no bom-senso e civilidade dos portugueses não-fumadores na aplicação da lei. Nada de perder a esperança. Afinal, se o contrário funcionaria, porque não assim? Será que só os fumadores portugueses são capazes do bom-senso, tolerância, cuidado pelo próximo? Não faria muito sentido acreditar que sim.

Andaremos talvez todos precisados de miminhos. Pelo menos é que parecem dizer alguns altos responsáveis e estadistas séniores, a começar pelo Presidente da República. Mas não me parece que essa função de consolo psicológico caiba na lista de funções apropriadas de um governo democrático e liberal. Esperemos que a fumaça retórica clareie um pouco em breve, todos cuidemos mais uns dos outros e das coisas realmente importantes, e o povo serene. De um bom cigarro é talvez o que alguns precisem para serenar.
IMAGEM: Almirante Pinheiro de Azevedo declarando «É só fumaça, o Povo é sereno» durante ataque com bombas de fumo a manifestação no Terreiro do Paço (fonte: http://www.fumacas.weblog.com.pt/)

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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Ao encontro das cidades futuras*

Terá daqui a pouco lugar, na Fundação Calouste Gulbenkian, a apresentação do Arquivo Maria de Lourdes Pintasilgo, resultado do trabalho levado a cabo pela Fundação Cuidar o Futuro, sob coordenação de Paula Borges Santos. Ficarão agora em linha milhares de documentos constantes nesse mesmo arquivo, fontes essenciais ao estudo de um percurso público empenhado e multifacetado. Num Portugal seco de projectos políticos para o devir como o que hoje somos, olhar o percurso de uma "vontade de ir mais longe" não será com toda certeza tempo mal empregue.
[Imagem: RTP]

* de um verso de "Canto" [Terra de Harmonia, 1950, Carlos de Oliveira] citado uma e outra vez por M.L. Pintasilgo.

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terça-feira, janeiro 22, 2008

Banqueiros para o povo


É realmente bom colocar a recente “crise do BCP” e as análises sobre o fim eminente do capitalismo em Portugal numa certa perspectiva histórica e analítica.

Não é preciso ler Marx, e menos ainda ser marxista, para perceber que as elites políticas e económica sempre estiveram e estarão próximas. Os regimes comunistas, aliás, foram e são, um exemplo extremo disso.

Mercado livre e desimpedido, em Portugal sobretudo, sempre foi coisa rara. Não foi, aliás, o BCP criado por iniciativa ou encorajamento do então ministro das finanças? Foi o que me constou.

Finalmente, a banca é uma “indústria” muito próxima do Estado em qualquer parte do mundo. Para perceber porquê vejam um artigo recente de Martin Wolf no Financial Times, defendo a intervenção do Estado no pagamento dos banqueiros, por forma a evitar incentivos a inflacionar ganhos de curto prazo e disfarçar riscos de médio e longo prazo. Entre outras coisas Wolf lembra que tivemos 100 crises bancárias significativas nas últimas três décadas a exigirem intervenção do Estado, incluindo 4 nos EUA, supostamente o sistema financeiro mais sofisticado do mundo e templo do capitalismo “desenfreado”.
Ou seja: No industry has a comparable talent for privatising gains and socialising losses. [...] They know that as long as they make the same mistakes together – as “sound bankers” do – the official sector must ride to the rescue. E porquê esta especial capacidade da Banca para nacionalizar as perdas e privatizar os ganhos? These are virtually the only businesses able to devastate entire economies. Em defesa dos banqueiros, diga-se, o nível de incerteza e de penalização potencial por não seguir a manada é muito elevada e os bancos estatais – veja-se a China, não são propriamente um exemplo de rigor.

Há portanto grandes incentivos para que haja uma relação próxima entre banca e poder para minimizar riscos e potenciar recompensas. Nada de necessariamente errado, até prova em contrário: de abuso de poder, de discriminação política. A não ser, claro, que haja alguma regra que desconhecia que obrigue a que o PS tenha entre os seus apoiantes apenas professores e advogados. Seria preferível ter administrações bancárias pouco politizadas e altamente competentes? Seria. Mas será talvez algo improvável, e deverá ser sobretudo o último factor a contar. Bom seria evitar demagogias baratas que saem caras em termos de legitimação do sistema político e económico. Ou então avançar com propostas concretas e construtivas que melhorem a supervisão e transparência da Banca. Voluntários, por exemplo, para se avançar em Portugal com a proposta de Wolf?

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sexta-feira, janeiro 18, 2008

Leitura para o Povo Atlântico

Deixei uma leitura para o povo no blogue da Atlântico. Uma vez que se tratava de uma tradução inglesa dos Maias de Eça de Queiroz comentada por um ensaísta norte-americano da London Review of Books pareceu-me o mais adequado.
But I shall return! Em que estado é que não sei...

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quarta-feira, janeiro 16, 2008

Brad Renfro, 1982-2008

Brad Renfro, um rapaz do Tenessee tornado actor aos onze anos anos por obra de Joel Schumacher, fez até à sua morte tantos filmes quantos os anos que tinha, vinte e cinco. Da tocante estreia à perturbadora interpretação em Bully (do qual foi também produtor associado), passando por dezenas de pequenas participações em longas-metragens e uma ou outra aparição em séries televisivas, resta segundo os obituários das grandes cadeias noticiosas (e não apenas dos duvidosos magazines de celebridades on e off-line), pouco mais que o rasto escandaloso dos seus problemas com a toxicodependência e a Lei. Que triste, este panoroma mediático puro e duro. Na Tinseltown desta última década, as circunstâncias de vida de um actor, tão mais que o seu trabalho, são o verdadeiro entretenimento.

[Foto: Jennifer Graylock/AP, via LA Times]

É mais fácil...

Miguel Cadilhe sempre teve uma relação tensa e complicada com a comunicação social. Nos tempos em que era ministro do actual Presidente da República, foi atacado à má fila pelo Independente de Paulo Portas. Processou o semanário e ganhou a querela em tribunal. O povo reteve o «escândalo» em torno do apartamento nas Amoreiras, mas nem se apercebeu do resultado do processo. Agora o conhecido empresário, economista e político candidatou-se a Presidente do Conselho de Administração do BCP e perdeu por 97,7 por cento do apoio do capital representado na assembleia geral. Os números não inibiram o Público de apresentar Cadilhe como um dos vencedores da votação.
Em volta dos factos teceram-se os mais extraordinários enredos. Uma forma de ver a história era que Miguel Cadilhe representava a iniciativa privada contra uma lista protagonizada por gestores vindos da Caixa Geral de Depósitos. Como se Cadilhe não tivesse sido um bom gestor público na qualidade de Presidente da Administração do Grupo BFE.
Outro modo de construir a narrativa jornalística foi pintar a lista de Cadilhe com as cores vivas da sociedade civil e a lista de Santos Ferreira com as cores sinistras de um partido político. Como se Cadilhe não tivesse sido ministro de Cavaco Silva e Bagão Félix ministro de Pedro Santana Lopes.
Valha-nos não ter surgido no espaço público a tese conspirativa de que o pessoal de Lisboa se entendeu, da maçonaria ao Opus Dei, para tramar um homem do Norte.
A ilação a tirar deste episódio do capitalismo português talvez seja afinal singelo: é mais fácil um banqueiro fazer dois ou três jornais do que dois ou três jornais fazerem um banqueiro.

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domingo, janeiro 13, 2008

E vão

dois anos de blogue. Parece que foi há pouco, mas já lá vão umas boas dezenas de posts. Temos andado um bocado bissextos, como o corrente ano de 2008, pelo que tentaremos apertar o passo e acompanhar a mais ritmada blogosfera. Um abraço aos leitores e amigos.


[Vela, bolo de chocolate e cobertura de morango: IStockphoto]

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Dois ou três reunidos

O José Leitão deu aqui pelo éter blogosférico início ao que se pretende seja uma troca de ideias sobre o Cristianismo em Rede, e que terá continuidade, em carne e osso, no próximo colóquio do CRC*. Tal como afirma, o espectro cristão apresenta-se neste (relativamente) novo meio de comunicação em tonalidades diversas. Há-as institucionais, comunitárias, críticas, ocasionais, programáticas, ecuménicas, apologéticas. Convivem em linha páginas de congregações e paróquias, blogues de cristãos anónimos, portais teológicos, jornais digitais missionários.
Estas diferentes expressões de fé, que Igreja configuram? Em Portugal, a Net é para os cristãos fonte de formação? Informação? Espaço de discussão? Instrumento catequético?
Eu - e penso que o Carlos e o Tiago também - agradeço desde já todas as impressões e testemunhos que nos queiram fazer chegar, e nos ajudem a pensar sobre isto.

*No dia 15, como todos os meses, o colóquio do Centro de Reflexão Cristã acontecerá às 18:30h, no auditório do Centro Nacional de Cultura]

[Foto: Pormenor de um mosaico paleo-cristão descoberto em 2005 sob uma prisão de alta-segurança, em Meggido, Israel. David Silverman/Getty Images, via National Geographic News]

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Aerotratado

Ainda há poucas horas o primeiro-ministro anunciou a decisão de situar o novo aeroporto internacional de Lisboa em Alcochete e o Tratado de Lisboa já voou dos noticiários.

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Ratificar pelas piores razões

José Sócrates terá ponderado seriamente em submeter o Tratado de Lisboa a um referendo, mas preferiu não cumprir uma promessa eleitoral a meter «meter um pau na engrenagem» do processo de unificação europeia. Foi esta a ideia que passou para a opinião pública da decisão anunciada ontem pelo primeiro-ministro. Mais grave ainda, a ideia foi aplaudida por opinion makers. A gravidade consiste em conceber um acto eleitoral como uma maçada e um processo político como uma engrenagem que se deve entregar aos cuidados de técnicos. Colocar o europeísmo contra a realização do referendo significa considerar que menos democracia é o preço a pagar por mais Europa.
«Menos democracia» não significa desvalorizar a legitimidade democrática do parlamento ou sobrevalorizar o potencial democrático dos referendos. Basta pensar que a Constituição de 1933, a lei fundamental do Estado Novo, foi referendada. A expressão significa que numa democracia representativa os eleitores não passam cheques em branco aos eleitos, mas confiam na sua capacidade de cumprir programas e promessas. É evidente que a mudança de circunstâncias pode tornar inviável o cumprimento de determinados compromissos.
A «novela jornalística» contada de forma a criar suspense em torno da decisão do primeiro-ministro, deu a entender que a hipótese de realizar o referendo era verosímil por uma boa razão – cumprir uma promessa – e razões políticas – entalar as oposições e desviar as atenções de problemas internos. Convém portanto analisar as três razões dadas por Sócrates para escolher a ratificação parlamentar:
A primeira é a existência de um «consenso alargado na sociedade portuguesa quanto ao projecto europeu e ao próprio Tratado de Lisboa». É uma razão frágil, mesmo vendo no «consenso alargado» um eufemismo para os partidos do bloco central, pois o PSD ainda há dois anos defendia o referendo e a comissão política do PS dividiu-se na reunião que tomou a decisão final.
A segunda é que «Há momentos em que um político não pode hesitar em seguir o caminho da responsabilidade perante os interesses do país, perante a Europa e perante a História». Os «interesses do país» foram reformulados em «interesse nacional» por Alberto Martins, líder parlamentar do PS durante o debate no parlamento. É um deslize autoritário. Foi um nome do «interesse nacional» que Salazar governou Portugal durante décadas. Há outras concepções do interesse nacional e a concepção do PS, sufragada pelo eleitorado, incluía a realização do referendo. As responsabilidades «perante a Europa» confundem-se com o receio do «efeito dominó». É uma confusão perigosa porque sobrepõe a cumplicidade entre os líderes europeus, aos contratos estabelecidos entre eleitores e eleitos. Quando os líderes sabem «o que é melhor para nós», a democracia torna-se um empecilho.
A terceira razão é que compromisso do referendo foi com o Tratado Constitucional e não com um tratado adicional. Acontece que esta distinção não é aceite mesmo por juristas conceituados que se referem ao Tratado de Lisboa como uma Constituição informal.
Em suma, os argumentos justificativos do processo de ratificação do Tratado de Lisboa são muito europeus e pouco democráticos. Resta-me concordar com Sócrates quando afirma que «O tratado não é o fim da História da construção europeia». Por isso mesmo, o referendo era uma boa oportunidade de discutir publicamente para onde vai a Europa.


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quinta-feira, janeiro 10, 2008

O continente explicado aos ilhéus [e não só]

Na falta do almanaque da praxe (não tive tempo para estudar a bloga), aqui fica a sugestão da semana: o meu infoblog preferido dos últimos meses, mantido pelo jornalista britânico Mark Mardell. Um olhar lúcido e substancial sobre a Europa.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Efeitos do anti-tabagismo na vida amorosa

Os efeitos da lei anti-tabágica, além de já terem causado náuseas em alguns colunistas portugueses mais conhecidos, são ainda de contornos vagos. O Inimigo Público anteviu um cerceamento das possibilidades de relacionamento amoroso, por causa dos obstáculos colocados, em contexto boémio, à famosa interrogação propiciadora de novas relações - «Tens lume?». Já me garantiram que o sucedido na Irlanda, há dez anos, quando os fumadores foram escorraçados dos pubs, foi precisamente o contrário. Em contexto de exílio forçado para ambiente agreste, os fumadores descobrem, em ambiente pacífico, a solidariedade das trincheiras. Em vez da guerra, são induzidos ao amor. Ou seja, a lei anti-tabágica favorece solteiros e casais de fumadores. Como nunca fumei e sou casado com uma fumadora, acabarei por ser prejudicado: se estiver num café e a minha mulher sair para fumar lá fora, ou acompanho-a e faço figura de marido possessivo, ou fico sozinho no quente a gozar uma melancolia clean. O melhor será mesmo só frequentar restaurantes e cafés para fumadores.

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sábado, janeiro 05, 2008

O Branco e o Negro

É sabido que Barack Obama foi criado na Indonésia e no Havai. Que nunca se acantonou na barricada política afro-americana, mesmo tendo e conta que (ele sim, literalmente) é africano e americano. Que, não por acaso, em 2000 perdeu a dança da cadeira de Chicago para um ex-Pantera Negra. Obama é, hematologicamente falando, tão do Kansas quanto do Quénia, tão "canditado negro" quanto "candidato branco". Não se poderia então, pelo menos nos nossos media tradicionais, ultrapassar a análise metapropagandística da melanina, ou a das vantagens e desvantagens de se ser "mulher", "veterano de guerra" e "pastor"? Eu, que sei muito pouco disto, gostava de aprender qualquer coisinha para lá dos estereótipos na cabeça do eleitor-médio-norte-americano. Se souberem de algum meio português que faça boa divulgação jornalística sobre as eleições americanas, avisem.

[Foto: Wikimedia Commons]

terça-feira, janeiro 01, 2008

Três desejos para 2008

A pretexto de vos desejar bom ano - feliz 2008 a todos! - aqui deixo três desejos bem prosaicos que gostaria de ver realizados por todos nós no far west , digo, na west coast da Europa. Não sei se lá chegaremos por artes mágicas, iniciativa privada, acção política ou pressão social, mas gostaria mesmo muito que:

1. Encontrássemos maneira duradoura de fazer uma barrela aos graffiti. 99% são horríveis, e de Mem Martins a Vila Franca, passando pelo Chiado, mal se salva uma parede;

2. Pelo menos uma das estações televisivas exibisse semanalmente um programa de humor português que não fosse revisteiro nem se limitasse a explorar a actualidade política até à náusea;

3. Se deixasse de cuspir para o chão. A sobrevivência deste hábito insalubre no nosso país é um mistério que preferia ver extinto a ver explicado.


[Imagem: publicidade ao lançamento das obras completas de J. Verne, Le Monde Illustré, 1888]