segunda-feira, abril 30, 2007

25 de Abril Devidamente Comemorado



Eu pensava que o golpe militar do 25 de Abril tinha tido como objectivo - veja-se o programa do MFA e o discurso da Junta de Salvação Nacional desse mesmo dia - a afirmação em Portugal de uma democracia à Europeia. Por isso, não vejo o que é a actual relativa falta de militância política radical destoe disso. (Não sei porquê, mas para o pessoal mais velho parece que a melhor medida do interesse pela política e da participação cívica é turbas e tanques na rua. Realmente "a juventude" é capaz de já não pensar assim).
Também não vejo o problema com o papel central de um parlamento democraticamente eleito (e dos partidos neles representados) nas comemorações da revolução. Bem pelo contrário: não foi para ele existir que se fez sobretudo o 25 de Abril?

25 de Abril sempre, ou seja, golpes a toda a hora e manifestações todos os dias, isso é que seria preocupante, e sintomático do seu falhanço, do fracasso dos objectivos primeiros do MFA.

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domingo, abril 29, 2007

Almanaque do Povo - Especial Noivos

Na solarenga soalheira tarde de ontem um certo amigo do povo, rapaz dado às artes marciais, à escalada de montanhas e às danças de salão, contraiu matrimónio. Apresentava os sintomas habituais - olhar marejado, rubor facial, sorriso fácil -, excepção feita a suores frios e nervoso miudinho. A noiva, trajando império-marfim, encontrava-se tanto ou mais elegante e serena. Selado o compromisso, rumou-se a vinhedos fora de portas lisbonenses.
Se no final da boda o piso da pista não parecia lá muito...

direito...
tal se deveu, seguramente, à alegria que tão lauta e festiva comunhão nos proporcionou. Um sincero agradecimento aos noivos, família e amigos.
João, Ana, muitas felicidades!

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Topete

Daniel Oliveira tem topete. Durante anos militou no PC e, como muitos outros camaradas, conhecia o índex de antifascistas que o seu partido sempre perseguira e desconsiderara da forma mais vil. Agora vem chorar lágrimas de crocodilo pelo facto de jovens comunistas, na melhor tradição do partido, terem vaiado Edmundo Pedro e outros antifascistas no decurso da manifestação ao 25 de Abril que, em Lisboa, desceu a Av. da Liberdade e acabou no Rossio. Edmundo Pedro, e os outros, dispensam, certamente, estas provas solidariedade. Antes e depois do 25 de Abril – mas sobretudo antes – foram vítimas de ostracismo feroz (e pior) por parte de sucessivas direcções comunistas e não precisam, para continuarem viver dignamente do ponto de vista pessoal e político, do falso moralismo declamado por Daniel Oliveira. Ou o Daniel Oliveira, quando andou pelo PC, ignorava o sectarismo do partido a que pertencia e as consequências que tinha, e que o dito sectarismo não era consequência da "ignorância", mas antes pelo contrário?

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A descendência de Juan Carlos I.

A princesa plebeia de Espanha, Letizia Ortiz, deu à luz esta tarde uma menina. A segunda filha de Felipe e Letizia chama-se Sofia como a avó materna, confirmando a natureza especial da relação entre a rainha e os príncipes das Astúrias (recorde-se que Juan Carlos I nunca concordou com um casamento que sempre viu como capricho de um filho desejoso de enfrentar gratuitamente as regras tácitas que regulam os casamentos reais a sério). Uma vez que, por culpa de Felipe, não foi concebido um varão, a Constituição espanhola não será mexida.

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Fechado para Bodas

IMAGEM: Bodas de Caná, cortesia de Paolo Veronese

sábado, abril 28, 2007

Fernanda no País das Maravilhas ou a Cena do Cardeal Take XXXXIIII


O Cardeal Patriarca continua a ser tratado com o respeito devido a um Cardeal, para mais Patriarca, como é protocolarmente normal em qualquer parte do mundo civilizado, católico ou não, há séculos. Mas eis que, a pretexto da cerimónia do 25 de Abril, volta a cair o Carmo e a Trindade, ou pelo menos a Câncio, em cima (por duas vezes) do eminente prelado e dos ilustres estadistas que o convidaram. Pois porque que é que não estão lá os outros líderes religiosos? E pois não é Sua Eminência um vaidoso e falso cristão, segundo esta eminente teóloga?

Ora, os órgãos do Estado até podem não convidar o Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca Dom José III Policarpo (ou se preferirem e mais informalmente, o Senhor Cardeal Patriarca). Embora se perceba mal porque não convidariam. Mas se convidarem o Senhor Cardeal Patriarca têm de o tratar como aquilo que ele é: uma eminência. (É assim, mal comparado, como quando o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro vão a uma igreja, por exemplo.)

Não estão lá outros líderes religiosos? Não é, claro, assunto que diga respeito ao Senhor Cardeal Patriarca. Se calhar poderiam estar alguns, mais representativos. Mas alguém contesta que, precisamente, a Igreja Católica é de longe a organização - religiosa ou não - mais relevante da tão falada sociedade civil. E estavam lá, por acaso, todos os sindicalistas de todos os sindicatos do país? Ou os empresários todos?

Convém não confundir anti-catolicismo com defesa da separação entre Igrejas e Estado. Como convém não confundir protocolo com má-educação ao serviço de intolerâncias.

PS - Quanto à indignação da fernanda cância com o "senhora de" estou mais de acordo. Abaixo a Primeira Dama!
PPS - Sobre isto ver ainda este poste do João Miranda que, no entanto, aceita erradamente que este caso deve ser lido como uma questão de separação entre Estado e Igrejas, e levanta outra (comemorativismo e história) para cujo o peditório já dei.

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sexta-feira, abril 27, 2007

Ricos e pobres, direita e esquerda.

Tendo em conta o conteúdo deste texto de Vital Moreira na Causa Nossa, e conhecendo nós as suas opções políticas de esquerda, é óbvio que o ilustre jurista e professor universitário nunca deve ter vivido noutra situação que a de uma enorme proximidade com a indigência. Diga-se de passagem que nem outra coisa me passaria pela cabeça.

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Coincidências

Mesmo a calhar para Sócrates, na véspera do debate mensal no Parlamento, a violação de segredo de justiça que dá Carmona Rodrigues como arguido no processo "Bragaparques". Também presumo que Belmiro de Azevedo e a Sonae já não conspiram contra o Governo da República

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quinta-feira, abril 26, 2007

O Túnel do Marquês.

Fiz hoje, por volta das cinco e meia da tarde, o túnel do Marquês. Entrei pela Fontes Pereira de Melo e só parei na Calçada do Galvão, mesmo em frente à Igreja da Memória, coisa que nunca me tinha acontecido em 41 anos de vida. Como se pode calcular, em nenhum momento senti a minha vida em perigo, apesar de ter andado a "50" dentro da citada estrutura rodoviária. Carmona e Santana estão de parabéns. Coisa de que nunca duvidei. Já quanto ao vereador independente do Bloco de Esquerda, ele que vá, literalmente, à merda com o seu populismo, o seu puritanismo hipócrita, a sua arrogância e a sua irresponsabilidade.

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O Camarada Rangel no País das Maravilhas

O discurso do camarada Paulo Rangel deu alegrias extremas a alguma esquerda social-democrata. Eu, de início, ainda pensei que se tratava do ex-secretário de Estado do ex-primeiro ministro Santana Lopes, esse espelho de rigor governativo, modéstia pessoal e virtudes democráticas (o tal que parece que tanto pressionou a TVI que a levou a pôr na rua Marcelo Rebelo de Sousa.) Mas certamente é engano meu, pois a desfaçatez não chegaria a tanto.

Gostei de ver, em todo o caso, o PPD voltar aos bons e velhos tempos revolucionários (não tarda tornam a alinhar nas nacionalizações para combater nublosas concentrações de poder). Gostei de ver esta fuga para frente (ou será para trás?). É a melhor confirmação do esgotamento do discurso crítico de direita sobre o 25 de Abril de que falei no poste anterior sobre a revolução democrática portuguesa. Mas duvido que faça grande mossa (excepto no próprio PSD). O populismo raramente dá grandes frutos, sobretudo em partidos que (modestamente, claro) aspiram ao poder.

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quarta-feira, abril 25, 2007

O meu 25 de Abril de 2007

O 25 de Abril deste ano recebi-o eu de pijama a meio da manhã, na cozinha, enquanto preparava e engolia um pequeno almoço preparado às três pancadas. Televisão ligada e os discursos da praxe ditos pelos deputados dos Verdes, do Bloco e do Partido Comunista. Saudosismo por um lado, críticas retóricas, demagógicas e previsíveis ao país e ao governo que temos e vamos tendo desde que Pinheiro de Azevedo chegou a primeiro-ministro. Em resumo, a esquerda pura e dura só aprecia o trabalho feito por governos desta república que nunca foram eleitos. Ou seja, o 2.º, 3.º, 4.º e 5.º governos provisórios.
Subiu depois Paulo Rangel à tribuna. Falou bem e pôs o dedo na ferida. O governo que temos é arrogante e autista, ao mesmo tempo que é chefiado por um homem mais do que evidentes problemas de carácter. Digo eu, mas também podia ter dito o orador. Ainda que Sócrates tenha “reagido” ao discurso do deputado do PSD desvalorizando-o e classificando-o como sendo de “bota abaixismo” (vocabulário típico de um aluno da Universidade Independente), a verdade é que as palavras de Paulo Rangel fizeram mossa. Bastava ver os sorrisos cínicos e desconfortáveis expelidos por muitos membros do governo enquanto Rangel falava – a começar em Sócrates e acabando no inefável Mário Lino – e que a câmara da SIC não quis nem pôde deixar escapar. Falou depois o presidente da República. Apesar de muito elogiado por Sócrates, o discurso de Cavaco Silva sobre a qualidade da democracia portuguesa – ou sobre a falta dela – reclamando a participação de gente mais bem preparada na vida pública, era uma farpa no lombo do governo, do seu chefe e do partido que o apoia e no seio dos quais pululam gente absolutamente impreparada (isto apesar da mesma desgraça minar também todos os outros partidos políticos portugueses com assento parlamentar).
Por volta das três da tarde, e enquanto passava a esfregona pela cozinha, lá estava, na mesma televisão, mas desta vez na RTP, o Dr. Soares a ser entrevistado por criancinhas alunas do ensino básico e por um rapaz muito simpático a quem a Ana Cláudia Vicente chamou um dia, com grande propriedade?, o Oprah português. Mário Soares, promovido a avó da nossa democracia, jurou que caso Portugal não tivesse tido Salazar ter-se-ia, no mínimo, transformado numa Suíça depois de terminada a Segunda Guerra Mundial. Soares nada disse sobre como passaríamos a ter Alpes ou que destino iria ser dado ao Oceano Atlântico. Calou-se sobre o número de cantões que Portugal passaria a ter, nada disse sobre a banca e os seguros, a Nestlé portuguesa, já para não falar nos relógios ou nos canivetes. Ainda assim acreditei. Soares, afinal, sempre foi para mim o exemplo do político e do homem probo. Mas confiei ainda mais no seu exercício de história virtual quando Soares garantiu que embora Portugal pudesse ter-se facilmente transformado numa Suíça naquilo que à sociedade e à economia diz respeito, assegurou ainda laconicamente que, em termos culturais, sempre lhe seríamos superiores (à Suíça, está bom de ver). Afinal, a pátria, a nossa, produziu grandes vultos da cultura mundial como o inesquecível e sempre actual António Sérgio.
Esfregada a cozinha fui até ao Chiado. Lá estavam a esquerda festiva e a esquerda próspera (quase sempre a mesma coisa). Um ou outro cravo vermelho. Dois pares de bandeiras daquela mesma cor. Mas gostei. De repente, Lisboa quase parecia uma cidade europeia normal com gente na rua portando-se capazmente. O pior estava para vir. Os poucos cafés que por ali existem encontravam-se incapazes de dar conta da procura. Rumei ao “Café do Chiado” (o que fica nas traseiras do Teatro S. Luís). Decoração capaz mas serviço péssimo, apesar do elevadíssimo número de empregados a servirem à mesa. Meia hora para se fazer chegar a três fregueses torrada e meia menos que morna, duas meias de leite quase frias servidas em chávenas da “Delta” e um chá frio que por acaso estava quase natural. Definitivamente, não estava na Europa.

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25 de Abril Hoje


Já houve tempos em que o 25 de Abril era objecto de controvérsia entre a esquerda e a direita. Hoje, depois do Iraque, as coisas mudaram. Afinal é evidente para todos que a liberdade e a democracia em Portugal custou bem menos, foi bem mais rápida a consolidar-se do que no infeliz Iraque. Onde, além dos terríveis custos em vidas e trabalhos o resultado final é tudo menos certo. Portanto, estou seguro de que a direita nacional que tanto se empenhou na causa da liberdade no Iraque, custasse o que custasse, não irá mais insistir nos pobres custos da nossa revolução democrática.

Quanto à história, muito há a fazer. (E, claro, tudo se pode e deve questionar e analisar.) Mas também já alguma coisa se vai fazendo. Destaco dois livros de colegas e amigas. Da Inácia Rezola, acabadinho de publicar, está ainda fresquinha uma bonita e útil síntese interpretativa, de leitura fácil (o que é muito díficil de conseguir), que faz o estado da questão em relação às questões essenciais do 25 de Abril. Da Paula Borges Santos temos um estudo detalhado, a pretexto do caso da Rádio Renascença, da relação bem mais complexa do que se imagina entre actores revolucionários e católicos, entre capitães e bispos, entre militantes e leigos. E ainda, de um investigador que não conheço, mas numa revista que conheço bem, um tema que muito me interessa: Tiago Moreira de Sá estuda os Americanos perdidos na Revolução Portuguesa no último número das RI. É comprar, ler e gostar (ou não, afinal, estamos em democracia).

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segunda-feira, abril 23, 2007

Bayrou oú?


Final feliz. O radical Le Pen abaixado e, em seu lugar, o centro alevantado com Bayrou. O que é tanto mais difícil de digerir por Le Pen, quanto um francês filho de um imigrante húngaro e com antepassados judeus - Sarkozy - surge, ao mesmo tempo, como a grande figura da direita. Mas a principal questão é saber se, ao contrário de Le Pen ou, entre nós, de Manuel Alegre, Bayrou conseguirá transformar este apoio em algo mais sólido: num crescimento do seu partido. Se fosse assim, mas os precedentes não ajudam, ele teria uma influência decisiva em qualquer futuro governo, ganhasse Sarkozy ou Ségolène. Isso poderia ser bom, daria uma boa razão a qualquer dos dois para moderar os excessos eleitoralistas, sem abandonar algumas ideias reformistas. Seria certamente bom para algo essencial: uma aposta forte em avançar na UE.

E, insisto, quem acha que nada disto interessa a Portugal, ainda não percebeu como funciona a Eurolândia, como os interesses nacionais portugueses estão hoje ligados à evolução do conjunto da Europa, e sobretudo dos seus países mais importantes e que nos são mais próximos.

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sábado, abril 21, 2007

Caras e Baratas, 5

Sim, this might go on and on. Passemos agora ao sector meta-humano de cromossomas X, onde temos, por exemplo, no campo Reformado:

a) Jennie Lynn Hayden, alias Jade, eficacíssima na materialização de energia verde. No ramo Petrino temos, entre outras,


b) Lorna Dane, alias Polaris, competentíssima na manipulação tecno-magnética.

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"Portugueses" nas Eleições Francesas


Seria interessante perceber como votam os franceses de origem portuguesa nas eleições presidenciais, em França, amanhã. Será que, como dizem (não sei bem com que base), o farão sobretudo à direita? Será que votarão sobretudo em Sarkozy e até em Le Pen? Será que isso é sinal de uma boa ou má integração? A mim parece-me que, sobretudo um voto em Le Pen, é sinal de má integração. De uma espécie de hiper-francesismo de compensação, vontade de se mostrar ainda mais francês do que os nativos. Ou de um receio de que uma posição que se sente (com ou sem razão) como afinal frágil seja ameaçada por novos imigrantes.
Não custa a crer numa maior vulnerabilidade de muitos franceses de origem portuguesa à violência e à incerteza: os carros que são queimados nos tumultos nos subúrbios não pertencerão propriamente à classe A. Talvez alguns deles acabem por regressar a Portugal (duvido, mas) certamente para alegria dos nossos racistas caseiros.

Veremos no domingo (ou talvez não). Veremos, certamente, se os receios a respeito de um regresso dos mortos de Le Pen se concretizam ou não.
IMAGEM: Cortesia de Rafael Bordalo Pinheiro e do Instituto Camões.

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sexta-feira, abril 20, 2007

Caras e Baratas, 4

Catoliberais D.O.P há-as, também:

d) Isobel Stevens não poderia ficar ao preço da chuva, já que a Medicina exige pesado investimento. Quanto a

d) Claudia Jean Cregg, como poderia não sair caríssima, tendo em conta a lida da Casa?

Caras e Baratas, 3

Continuando. WASP's certificadas temos:

a) Charlotte Goldenblatt, née York, ex-MacDougal. De cheap não tem nada, porém dificilmente agredirá com mais que um martini quem tal insinue.

b) Já Bree Hodge, née Mason, ex-Van der Kamp, paga quotas à NRA e pratica tiro ao alvo, pelo que se aconselha prudência no destrato.

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quinta-feira, abril 19, 2007

Caras e Baratas, 2

c) Susana Clotilde Chirusi, Conservatólica e Filipista.

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Caras e Baratas, 1*

a) Marjorie Simpson, née Bouvier, Presbiluterana (possuída por breve deriva Movimentariana),
b) acompanhada da sua devota vizinha e amiga Maude Flanders.

*Série ilustrada, em homenagem aos dois posts mais sabe-se-lá-o-quê divertidos do ano.

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Eleição ou Deseleição em França?


No próximo fim-de-semana são as presidenciais em França. Os franceses e as francesas - sempre prontos a revoltarem-se contra um Estado que ao mesmo tempo divinizam e culpam de todos os males (onde é que eu já ouvi isto); provavelmente convencidos de que ninguém é suficientemente bom para mandar neles - preparam-se para escolher o seu próximo chefe de estado. Ou isso, ou então para votar em quem, destes três - Royal, Sarkozy e Bayrou - os irrita menos. Nessa perspectiva Bayrou pode ter hipóteses, se passar à segunda volta. Foi assim que Le Pen foi deseleito e Chirac acabou presidente à falta de melhor.

Mas nem tudo é mau. Pelo menos desta vez Le Pen parece afastado da corrida. Pelo menos a aposta na Europa parece ser uma prioridade para os três candidatos com hipóteses de ser eleitos. Todos se afirmam determinados a desbloquear, seja como for, o processo de reforma da UE que o mal-azado referendo francês paralisou.

O problema poderá ser a abundância de promessas eleitorais inatingíveis, contraditórias, impeditivas de reformas de fundo, possível rastilho duma ainda maior crise económica e contestação social. E quem pense que a sorte económica da França nos deve deixar indiferentes está bem enganado. A Eurolândia pode muito em relação a Portugal, para o bem e para o mal.

O meu voto? Entre Bayrou, o "jesuíta", como foi carinhosamente apelidado pela delicada enarca Ségolène, e esta última, o meu coração balança (ou talvez não). Até posso ter dúvidas quanto à competência, e, sobretudo, quanto à coerência do programa de Ségo. Mas ela não abunda nestas eleições. E eu sou um feminista coerente, defendo, portanto, que o verdadeiro critério da igualdade não é ver uma mulher competente a exercer um cargo importante, é ver até uma mulher incompetente a fazê-lo. Além do mais, não é irónico que seja comum nas "conservadoras" monarquias ver senhoras a exercer a suprema magistratura, e que seja nas "progressistas" repúblicas que isso quase não sucede?
A Marianne foi durante tanto tempo um bom símbolo da República Francesa precisamente porque não passaria pela cabeça de ninguém confundí-la com uma pessoa real. A política era para os homens. Mas pode ser que isso esteja a mudar. O que deixará os homens mais libertos para as coisas verdadeiramente importantes. Imagino algumas leitoras mais preconceituosas a aventar logo: o futebol, os automóveis. Mas não é necessariamente assim, Bayrou, por exemplo, interessa-se muito pela criação de cavalos.

A SEGUIR: Os postes do Pedro Magalhães no Margens de Erro.
IMAGEM: Entrada Marianne na Wikipedia.

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terça-feira, abril 17, 2007

Notre Siècle

Assinalou Pedro Mexia, lembrou Hugo Billard. Tempos inclementes para a historiografia gaulesa: primeiro Pierre Vidal-Naquet, depois Jacques Ozouf, há poucos meses Jean Pierre Vernant, agora René Remond. Que os que se lhes seguem os honrem.

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domingo, abril 15, 2007

Clássicos para o Povo: Uma Questão de Título Profissional

Doutor Flávio: Vá! O que fazem na rua, meu bando de mandriões, hoje é feriado por acaso? Não sabem que em dia de trabalho, meus desqualificados, não podem andar pelas ruas sem trazerem o símbolo da vossa profissão? Fala: qual é a tua profissão?
Carpinteiro: Sou carpinteiro senhor doutor.
Doutor Marulo: Onde está o teu lápis na orelha, a tua régua? Porque vestes roupas domingueiras? E tu, qual é a tua profissão?
Sapateiro: Bem, senhor doutor, e com o devido respeito por quem tem melhores qualificações, não passo de um remendão.
Doutor Marulo: Mas que fazes profissionalmente? Responde-me sem rodeios.
Sapateiro: Uma profissão que espero poder exercer de boa consciência, a de remendão de maus fundos.
Doutor Marulo: Mas que profissão é essa, meu malandro? Que profissão, meu mandrião?
Sapateiro: Senhor doutor não se passe comigo! Mas se passear muito comigo posso remendá-lo.
Doutor Marulo: Remendar-me? Como te atreves meu poltrão?
Sapateiro: Senhor doutor sou sapateiro.
[…]
Doutor Flávio: Mas porque andas com estes homens pelas ruas?
Sapateiro: Sinceramente é para os fazer gastar as solas dos sapatos. Mas o pretexto é a tolerância de ponto que temos para ver César, para assistir ao seu comício triunfal

FONTE: Shakespeare, The Tragedy of Julius Caesar [1599], Act.I Sc.I. [Tradução livre q.b. do subscritor]

Parece-me que a Cornucópia acertou em cheio programando para esta altura a peça Júlio César de Shakespeare. Não assisti (ainda) a esta encenação. Mas deve valer a pena. (Se bem que duvido que a tradução seja tão fiel ao espírito da coisa como a minha.) Evidentemente que a actualidade do texto do bardo inglês não vem de vivermos numa época de assassinatos políticos; mas sim do facto de que a peça abre precisamente com uma discussão sobre títulos profissionais.
Aliás, não seria melhor num país tão preocupado com o rigor a respeito dos ditos, recuperar-se em Portugal os costumes da velha Roma, mãe de todos nós? Não seria mais simples se toda a gente tivesse uma espécie de logotipo, que identificasse a sua profissão e formação?
Não menos pertinente, diga-se, é a preocupação com o excesso de feriados. Quem diz que os clássicos não têm nada para oferecer ao povo, que são irrelevantes para as discussões dos dias de hoje?
ADENDA: Bem a propósito desta questão do rigor no uso dos títulos profissionais vem este poste do Kontratempos a respeito da advocacia de Marques Mendes.

Lume brando!

A pouca credibilidade como homem público que ainda poderá restar a José Sócrates vai sendo cozida em lume brando, muito brando. Mas sempre há quem prefira dizer que o episódio relativo à forma como obteve a sua licenciatura não tem quaisquer implicações políticas.
Pelo meio, vale a pena perguntar se António Costa já acabou as suas merecidas e oportunas férias.
Foto: http://culinaria.weblog.com.pt/arquivo/Bacalhau.jpg

sábado, abril 14, 2007

Uma Fezada?

Parece que Jorge Sampaio anda a ser sondado pelo secretário-geral das Nações Unidas para se tornar em alto-comissário para a chamada “Aliança de Civilizações”, um devaneio inventado por Zapatero e muito apoiado pela Turquia. Sampaio fará o que lhe aprouver. Simplesmente, com os recentes ataques terroristas em Marrocos e na Argélia, dificilmente alguém acreditará que o radicalismo político e ideológico islâmico esteja muito interessado em “alianças” e em “diálogo”. Excepto, claro, se Jorge Sampaio continuar a ser um homem de muita, mas mesmo muita, fé!

Quanto Vale um "Engenheirogate"?

Alguém questiona que neste país o título de engenheiro é usado como uma cortesia que nada tem que ver com o estatuto na Ordem dos Engenheiros? O Público descobriu um. Miguel Gaspar que fez parte do equilibrado painel de comentadores com que o diário abrilhantou ontem as suas páginas com mais um incrível episódio do folhetim "Engenheirogate"! (Eis uma bela tradição da imprensa portuguesa que assim vemos recuperada).
Engenheiro em Portugal é título. Alguém está seriamente a afirmar que Sócrates enganou as pessoas levando-as a pensar que era um grande criador de pontes, um grande mestre de obra, por isso singrou na política? Engenheiro só se for de almas como todos os políticos.
Sócrates fez um ano numa privada para obter um licenciatura que claramente não iria exercer. Isto depois de um bacharelato na universidade de Coimbra muito antes, e um outro ano numa universidade do Estado, sempre com notas razoáveis. E depois, o que é muito invulgar em Portugal, fez uma formação adicional naquilo que entretanto percebeu que realmente lhe interessava: um MBA no ISCTE. Não vejo o que é isto tenha de questionável.
Mas aparentemente o Público teve até necessidade que lhe explicassem esse facto espantoso de que os MBAs no ISCTE não exigem apresentação de tese! Uau!! Onde é que já se viu? Notem, publica uma notícia a noticiar essa ausência de tese sem se dar ao trabalho de confirmar antes que isso é normal! Normal no ISCTE e em toda a parte do mundo onde os MBAs frequentemente dispensam teses! Normal em jornalismo de investigação? Se calhar é.

Só quem não anda muito pelas universidades estranhará dificuldades em obter certificados (ou erros e discrepâncias nos ditos cujos). Eu nunca consegui obter um certificado em tempo útil. Isso nunca foi problema nas minhas várias candidaturas. Sucedeu aqui mais do que lá fora, mas sucede em todo o lado: as universidades não são exactamente conhecidas pela sua agilidade. É perfeitamente vulgar, por isso, aqui como lá fora, por exemplo concorrer e obter uma posição pós-doutoral e passarem-se meses ou mesmo mais de um ano antes do grau e respectivo certificado ser conferido.

Nada teria a objectar a uma investigação jornalística. Mas até agora não vi nada de parecido. Ao fim de tantas notícias alguém mostrou algum padrão de favorecimento na nomeação de professores da Independente para cargos públicos? É que mesmo que a Universidade Independente tivesse tido tratamento de favor para com Sócrates, o que seria o mínimo para merecer notícia (e até agora também não vi claramente demonstrado, embora deva dizer que acompanho a questão à distância e sobretudo por via da rigorosa blogosfera), para ser um caso sério seria ainda preciso mostrar que o teria feito ilegalmente e com conhecimento do próprio. (Embora admita que qualquer ilegalidade puderá ser politicamente fatal para Sócrates, por mais inocente que ele esteja). Sobretudo, seria preciso mostrar que a Universidade ou os seus professores tiveram algum tratamento de favor pelo governo depois disso. Mas dá trabalho, eu sei. É mais simples atirar barro à parede e gritar censura quando alguém se queixa. Aliás, será possível criticar a imprensa neste país sem desenterrarem esse morto? Isso ainda assusta alguém?

Qual será o impacto político deste caso? É, no fundo, por caricato que tudo isto seja até ver, o que realmente importa. Alguns poderão sentir empatia e simpatia pelo percurso de vida do primeiro-ministro como trabalhador estudante e a sua imagem poderá até beneficiar com a human touch. Talvez. Mas uma parte do nosso comentariato cansou-se do estado de graça e das reformas que não dão resultados já. Aliás criticar tem sempre mais piada e mostra independência. A maioria do país não sei. O que é certo é que um comentariado contrariado e um jornal influente que parece decidido a fazer uma prova de força com o primeiro-ministro poderão fragilizar o governo. E, nessa medida, encorajar as pessoas afectados por reformas difíceis a protestar mais. Não me espantaria ver mais contestação nas ruas, ou pelo menos mais ruidosa. Um círculo vicioso poderá ter começado que destruiria avanços reformistas ainda frágeis ou aumentaria muito os seus custos. Legítimo, sem dúvida, custoso também, provavelmente. Veremos quanto vale um "Engenheirogate" em Portugal.

Blogosfera em rigor

Leitor amigo, em rigor, pelo menos por estas bandas pode ficar descansado quanto a uma coisa: ao contrário da imprensa de referência não há assessores a telefonar e não há grandes grupos económicos a pagar.

Um princípio, um meio e um fim!

Tanto quanto pude perceber Ruben de Carvalho, Luciano Amaral e Medeiros Ferreira aceitaram com naturalidade o fim das suas colaborações no Diário de Notícias. Mesmo que, e não estarei a pensar mal, gostassem de continuar a escrever regularmente para aquele que é um dos mais prestigiados jornais diários portugueses. A derradeira crónica de Ruben de Carvalho no DN, como um texto de Medeiros Ferreira no “Bicho Carpinteiro” – no qual relata brevemente as circunstâncias da sua saída –, são não apenas testemunhos que revelam bom senso e inteligência mas, também, um bom gosto quase extremo. Joana Amaral Dias e Daniel Oliveira, que assume as dores de todos os colunistas de “esquerda” que foram convidados a deixar de colaborar com o DN (presumo que quando o mandarem embora do Expresso tal se deverá a uma conspiração com origens no PRN), vêem a opção tomada pela direcção chefiada por João Marcelino como uma atitude que indicia intenções político-ideológicas que põem em causa o pluralismo de opinião naquele matutino (presumindo que tal pluralismo existia). E no entanto estas observações e juízos não passam de um absurdo. Pelo menos enquanto não se souber quem são os novos colunistas e ao que vêm, e ainda porque se está ignorar que muita gente da chamada "direita" também foi ou vai ser afastada. De qualquer modo, e sendo aquele casal quem é, é óbvio que não se podiam esperar considerações menos canhestras.
Ainda assim, e se como Daniel Oliveira assumirmos que todo o processo de reforma do DN está ferido de enviesamento ideológico, certo é que convém recordar que o DN tem proprietários, tem direcção e tem redacção. Que se trata de um órgão de informação e de um negócio. Tem ainda leitores e anunciantes, e até como não se sabe o que é que o DN vai ser, melhor será que se assumam como naturais e absolutamente legítimas as mudanças que estão a ser introduzidas e aquelas que ainda o virão a ser.
É claro que sentirei sobretudo a falta das crónicas de Medeiros Ferreira, igualadas umas vezes, e superadas outras, em tempos mais recentes, pelas do seu cunhado Nuno Brederode Santos aos Domingos (e que não sei se fica ou se vai). Quanto ao resto, recordar apenas que tudo tem um princípio, um meio e um fim. A começar pelo próprio Diário de Notícias.

sexta-feira, abril 13, 2007

Almanaque do Povo


Os A.A.: Conhecem os Alcómicos Anónimos? Em caso positivo ou negativo, passem pelo blog-site do grupo, ainda a cheirar a novo.

É a revista fresquinha!: Já saiu a aguasfurtadas. Andai lá, ide ver o último promocional. Cá por Lisboa está à venda na Mariquinhas, onde por esta hora fala o insone Henrique Fialho.

Joana Lopes: com quem o Bruno Cardoso Reis, eu, Paolo Pinamonti e Rogério Ribeiro partilhámos há semanas uma agradável manhã de sábado no RCP (e a de amanhã promete), animados por Luís Osório e Nuno Costa Santos, abriu Entre As Brumas da Memória, blogue homónimo do livro de que é autora, e que foi lançado no passado dia 20 de Março. Aí se podem encontrar adendas, bibliografia, questões e reflexões sobre memória e historia dos católicos durante o Estado Novo.

A língua dos homens, a língua dos anjos: Antes ia aos Frescos, hoje passo pelo Blogservatório, como tantos bloggers à cata de novidades. Noutro dia fui parar à Taberna da Resistência, estabelecimento mantido por autores ligados à Interjovem e ao PCP. Não sei que diga, vendo em epígrafe um excerto da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 13, atribuído a Renato Russo; talvez diga que, se isso servir para que alguém ouça pela primeira vez 'Monte Castelo', uma de tantas grandes canções dos Legião Urbana (cuja letra é, na realidade, a adaptação do texto neo-testamentário aliado ao mais conhecido soneto camoniano), já não é letra perdida.

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Um verdadeiro “Triumph”

Numa cidade, como Lisboa, e num país sempre um tanto sombrios, é uma verdadeira benção a campanha publicitária da marca de roupa interior feminina «Triumph». A “lingerie”, valha a verdade, é de qualidade estética desigual. Mas a modelo escolhida para protagonizar a dita, a enigmática Cláudia Vieira, preenchendo tudo quanto é painel publicitário no Portugal continental e insular, é o melhor prenuncio de que a vida ainda pode ser bela. Muito bela e feita, naquilo que é mais importante, com a mais genuína produção nacional.

quinta-feira, abril 12, 2007

Sousa Franco

Foi uma vergonha, que demonstra cristalinamente o estado de grande desespero em que se encontra o primeiro-ministro, a evocação por este do nome do Professor Sousa Franco na entrevista de ontem dada à televisão do Estado. Sousa Franco foi um mais prestigiados professores de Direito da sua geração, com uma carreira justamente reconhecida entre nós e no estrangeiro. Usar o nome deste homem, mesmo que fosse para, singelamente, citar um par de versos que o terá ouvido pronunciar sabe Deus quando, demonstra que Sócrates não tem escrúpulos. As dúvidas que ainda subsistem, eu diria até que se adensam, sobre as razões e a natureza da passagem de José Sócrates pela Universidade Independente, não podem nem devem ser misturadas com o percurso académico de um homem que dedicou a maior parte da sua vida a um ensino universitário de excelência e à investigação do Direito na área económico-financeira. Mesmo que um dia tenha cometido o erro de se juntar a António Gueterres num Governo de que Sócrates também fez parte.
Não é evocando Sousa Franco que se ganha credibilidade e respeitabilidade. Aliás, o que é pensaria e diria Sousa Franco de uma licenciatura tirada às três pancadas na Universidade Independente? Penso que não é preciso um grande esforço para o imaginar.

quarta-feira, abril 11, 2007

Marquês Mendes

Espero que o licenciado Marques Mendes, que pelos vistos considera tão importante a questão do uso indevido dos títulos, venha explicar onde é que tirou o seu doutoramento para merecer o título de doutor. Estou seguro de que a imprensa de investigação investigará sem medos.
Espero que o licenciado Marques Mendes venha agora disponibilizar o seu currículo académico para se perceber qual motivo do convite para leccionar, que aceitou durante uns meses até lhe aparecer melhor, na Universidade Independente. Seria também interessante perceber se lhe ficou dessa altura a impressão de que a dita instituição poderia estar disposta a traficar influências com políticos, ou se é uma ideia mais recente. Estou seguro de que a imprensa de investigação investigará sem medos.
Quanto ao resto creio que chegou a altura de quem vê suspeitas de favorecimento do primeiro-ministro à Independente as explicar melhor. Será no facto de um professor (entre vários) ser nomeado para um cargo pelo governo do qual é depois demitido? Será no facto do governo estar disposto a encerrar a dita universidade?
Claro que se se provar favorecimento será grave. Mas até agora do que ouvi não parece haver nada senão as confusões burocráticas comuns em todas as universidades portuguesas. O contrário, um processo muito perfeitinho, é que me pareceria estranho, suspeito mesmo.

Títulos no País das Maravilhas

Tendo eu vivido uns anos na Grã-Bretanha, confesso que me custou a habituar, à pátria retornado, à obsessão com os títulos do tão aristocrático Portugal. Mas enfim, em Roma sê romano (como diria a Alice).

Dizem que este problema dos títulos na sua encarnação universitário-político começou com a catedrocracia do Professor Doutor Oliveira Salazar. E eu a pensar (excesso de leituras, bem me tinham dito) que se podia pelo menos remontar a Mestre Julião (o quase eterno chanceler do nosso D.Afonso Henriques, D.Sancho I e D.Afonso II); e que uma nova e importante vaga veio com os doutores que tomaram conta da República, em 1910, e a quem faltavam outras titulaturas.

E agora? E hoje em dia! Não há dúvida de que o caso parece muito sério. O hábito consagrado de chamar engenheiro a qualquer bacharel de engenharia tem de acabar!!! Parece que um simples licenciado em engenharia não registado na Ordem deixa de ser engenheiro?!? (Quantas vidas destruídas, Deus meu! Quantas empresas abaladas!!)

E fica a grande questão: estará iminente o dia em que qualquer reles licenciado sem doutoramento deixará de poder ser tratado (com o respeitinho devido) por doutor?! O que será deste pobre país (moderno, evidentemente)?! Uma crise seríssima, sem dúvida!!! Espero que a imprensa de referência continue a publicar pedidos de esclarecimentos sobre pontos obscuros nas suas reportagens de investigação afrontando heroicamente os assessores de imprensa do governo relativamente a uma questão tão essencial. Censura nunca mais!!! (Um governo preocupado com a sua imagem, onde é que já se viu isso!?!)

Estou certo aliás que a imprensa rejeita todas as pressões e não faz fretes, a começar pelos seus patrões. Parece que o único (doutor?engenheiro?) patrão que manda na imprensa é o governo no caso da RTP e da RDP. Parece que, por uma qualquer razão que convirá explicar, só aí os heróicos jornalistas se deixam mandar. O que sendo mau, é menos mau, já viram se fosse assim em todo o lado?!

Enfim, junto a minha à vossa voz, povo amigo, é preciso que o primeiro-ministro esclareça! Direi mesmo mais: esclareça cabalmente, provando que está inocente!! (Quanto ao deficit parece que vai melhorzinho: 3.9%. Mas que importa isso no país do títulos?!)

Mas quem pede esclarecimento sobre títulos também os deve dar. Isto, apesar da minha vontade de tomar conhecimento (sequer de vista) da polémica entre o Fernando Martins e o Daniel Oliveira ser nula. (Em todo o caso, ainda bem que o Daniel tinha à mão o CV do Rui Tavares, pois é um historiador e articulista de muito talento, que muito aprecio – com ou sem aspas, perdão, com ou sem barba – e não tinha referências de toda a sua obra.) Dizem-me, no entanto, que o Fernando Martins terá feito um apelo para eu esclarecer o Daniel e o Mundo sobre a acusação que este último lhe faz de ele, Fernando, ser uma inexistência. Bem sobre isto o que se me oferece dizer é que, ainda que eu defenda a tese (admito que contestável, mas é a minha) de que o Mundo não se reduz apenas às pessoas e lugares que o Daniel Oliveira conhece, creio que é evidente para todos que o Fernando Martins é, essencialmente, uma personagem virtual, um nickname deste blogue. Portanto, sendo O Amigo do Povo, ainda por cima, um blogue expressamente desalinhado, e fazendo o Fernando Martins parte da facção direitista, não é a mim que devem ser pedidas contas. É à Universidade de Évora que tem na sua lista de professores do departamento de história um dito Doutor Fernando Martins. É ao Professor Doutor Fernando Rosas (que o Daniel Oliveira provavelmente conhece e de cuja existência, portanto, talvez não duvide) que terá orientado o dito Fernando Martins na sua tese de doutoramento, concluída vai para um ano. É a várias revistas académicas que aceitaram publicar artigos do referido "historiador" Fernando Martins. É a eles e não a mim que devem ser pedidas contas, esclarecimentos, uma notazinha à imprensa.

A mim só me resta terminar com um grande bem hajam meus senhores, doutores, engenheiros, historiadores (com e sem aspas) etc., etc., etc.! É aproveitar enquanto durar, qualquer dia vem a revolução e acabam-se os títulos!

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A Taberna do Funileiro

O aposentando João da Agualva, Martins de pai, teve a dado Inverno a lembrança de contar o país aos seus vizinhos. Manuel Pinheiro Chagas - por sugestão de Miguel Martins Dantas, então Ministro de Portugal em Londres - assim imaginou o narrador da História Alegre de Portugal (1880). Este raconto popular de séculos de aventuras e desventuras políticas possui dois ingredientes em comum com Os Grandes Portugueses, o personalismo e a simplificação, e outros tantos propósitos, ensinar e entreter. O velho mestre-escola desejava substituir as idas a certa tasca de Belas por uma forma de lazer edificante, o serviço público televisivo tenta reaproximar o telespectador do conhecimento do seu passado. Por mim, prefiro um só episódio do programa do António Barreto a todas aquelas emissões especiais protagonizadas por Maria Elisa, ou mesmo às tele-biografias, mas a bitola está baixa: antes divulgação com poucas pretensões científicas que qualquer dos outros pratos da Taberna do Funileiro (telenovelas em loop, talk-shows com quinze pessoas a falarem em simultâneo, rescaldos e ateios futebolísticos). Do menos mau para o bom, o caminho é mais curto.

[Imagem: Universal]

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terça-feira, abril 10, 2007

Ler os outros...

Ler com atenção, sobretudo nas entrelinhas, o texto de José Medeiros Ferreira no seu "Bicho Carpinteiro". Chamou-lhe "A validade dos títulos da Independente."

É a política…

No seu Bloguitica, o Paulo Gorjão parece andar a confundir aquilo que é, e sempre foi, uma questão política, com um mero exercício jurídico que nunca existiu. Embora possa, de certo modo, algum dia vir a sê-lo.

Questão de estilo.

Que Sócrates teremos na RTP na quarta-feira? O que se sujeitou a todas as humilhações para chegar onde chegou e como chegou? Ou o arrogante que pensa que nos tem pastado impunemente sempre que andou pela governação?

segunda-feira, abril 09, 2007

Sócrates falará.

Parece que o primeiro-ministro José Sócrates vai esta semana falar na RTP sobre o caso da sua licenciatura, aparentemente nublosa, conseguida na Universidade Independente quando já era membro do Governo Guterres. Espera-se que comece, ou ao menos acabe, com um sincero pedido de desculpa a todos os portugueses. Depois? Os portugueses desculparão mas talvez desejem que se vá embora.

domingo, abril 08, 2007

Daniel "Salvador" Oliveira

Daniel Oliveira, o português mais inteligente da blogosfera e último representante do radicalismo moderado da esquerda lusa, iniciou uma cruzada com o intuito de que em Portugal, e ao contrário daquilo que é normal em todo o mundo civilizado, a extrema-direita, por mais abjecta que seja nas suas ideias, possa ser silenciada, perseguida e enjaulada. Isto é, quer que o nosso regime democrático seja tão intolerante como qualquer regime ou formação política fascista ou “social fascista.” Daniel Oliveira, tal como no tempo da outra senhora, refere-se a “crimes políticos” quando fala da extrema-direita portuguesa. Poder-se-ia pensar que não sabe o que está dizer. Mas sabe. Quem andou pelo PCP aprende e nunca esquece. Como há criminalidade política, Daniel Oliveira arma-se em inspector da Judiciária ou em agente dos serviços de informação (ou da PIDE dos tempos da “longa noite fascista”) e quer meter toda a extrema-direita portuguesa na cadeia. Esquece-se que além de tal procedimento não ser nada democrático, rapidamente se tornaria na melhor maneira não apenas de criar umas quantas vítimas e até alguns mártires na dita extrema-direita mas, e sobretudo, uma forma de começar a matar o regime político nascido da Constituição portuguesa de 1976. O Daniel Oliveira sabe muito bem que uma das principais virtudes da democracia e dos democratas, além de uma das suas principais forças, está justamente em permitir que outros digam tudo aquilo que, desde logo por princípio, não se gosta de ouvir. Ou seja, a democracia pode e deve permitir que neguem publicamente a democracia e os seus próprios fundamentos políticos, ideológicos e morais. Ora é justamente por isso que Daniel Oliveira não só não é democrata como quer dar todo e qualquer contributo para acabar com ela onde quer que seja.
Mas mais ainda, Daniel Oliveira, e outros como ele, veja-se o caso do “historiador” Rui Tavares do Público, não percebem que, da extrema-esquerda à extrema-direita, todos devem ter um lugar no sistema político e na sociedade portuguesa. Devia reconhecer publicamente, como em privado certamente já o fez há muito, que parte da violência da extrema-direita não é “genética”. Ela é consequência da marginalização de que tem sido vítima – embora não unicamente vítima. Para bem da democracia portuguesa, portanto, devemos aceitar cartazes como os PNR na Rotunda contra os imigrantes, como devemos aceitar reuniões políticas, espectáculos rock, ou o que quer que seja, independentemente das "mensagens" que nela passem. Se não for assim, cada vez mais a democracia portuguesa se assemelhará mais ao Estado Novo do doutor Salazar. De qualquer modo, e como é óbvio, caso a lei seja infringida então as autoridades que ajam em conformidade. Finalmente, se o Daniel Oliveira tem provas de que o PNR está ligado a actividades ilegais ou que as autoridades portuguesas, por razões totalmente ilegítimas, não investigam acções criminosas cometidas pelo PNR ou por outras organizações que funcionam na sua órbita, melhor será que de forma rápida denuncie e apresente provas. Ficaremos todos, a começar por mim, felizes e satisfeitos com tamanho acto de coragem e de civismo. De resto, e como o Daniel "Salvador" Oliveira não vai poder provar nada – aliás nem quer –, bom será que a democracia portuguesa ignore todos aqueles seus salvadores que vêm do estalinismo, prontos a usar métodos estalinistas, mas que não se sabe exactamente para onde vão. Ou será que se sabe?

quinta-feira, abril 05, 2007

Aspas

O Daniel Oliveira dedicou-me um curto texto no Arrastão pelo simples facto de eu me referir ao Rui Tavares com aspas para o “historiador”. Como supõe que eu não concedo ao Rui Tavares o título ou o exercício do ofício de historiador, o Daniel Oliveira pespegou ainda com uma lista detalhada da obra publicada ou editada pelo seu amigo Rui Tavares. Acho que fez bem. Não há nada mais bonito do que provas de amizade como esta. No entanto, e a não ser por causa da demonstração estrénua daquilo que é uma bela amizade, o Daniel Oliveira podia ter ficado quieto. É que eu, ao colocar entre aspas o Rui Tavares “historiador”, apenas o faço porque cito a forma como este, o Rui Tavares (que felizmente também é muitas outras coisas, além de uma grande cabeça), se identifica perante os leitores do Público. Não questiono o facto do Rui Tavares ser “historiador”, até porque, e por manifesta falta de interesse da minha parte, não conheço a sua obra. É claro que podia insinuar que a indignação do Daniel Oliveira, além de genuína, é também encomendada e o sinal claro de que alguém anda a enfiar o barrete das aspas. Mas não, não ouso insinuar!
Uma nota final para dizer ao Daniel Oliveira que ninguém sabe quem eu sou porque simplesmente eu não existo. É só perguntar ao Bruno Cardoso Reis e a outros que não só julgam conhecer-me como acreditam que eu existo.

quarta-feira, abril 04, 2007

Almanaque do Povo


Dias de Festa: Felicidades à Carla Quevedo, alias Bomba Inteligente, por quatro animadas primaveras, e ao colectivo do Dolo Eventual, por dois anos cumpridos.

Comprei uns pseudo-Converse All Star no supermercado por menos de €5,00: não pude ir ao Tivoli, celebrar o Melancómico em novo suporte, mas estive com a Dona Bina e o Márcio no pensamento.

Há bloggers que ficam famosos, há famosos que ficam bloggers: entre os que levam a coisa mais a peito está Moby. Que - digo eu - tem a tara das alíneas.

Subitamente, no mês passado: David Fonseca abriu e fechou um vlog, registo da sua participação no South by Southwest, em Austin. Bem giro.

Inauguração:
Desde há uns dias visitável está o sítio da rede editorial de blogues TubarãoEsquilo, que tem por pivot Paulo Querido. A lusoblogosfera rumo à profissionalização.

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Blogues Vergonhosos e Cartazes (Não) Racistas

Parece que o Senhor Procurador da República acha que os blogues são uma vergonha. Como bem sublinha o Daniel Oliveira é de esperar um esclarecimento, e um pedida de desculpas seria bonito (sobretudo se feito na caixa de comentários de vários blogues).

Mas há um assunto bem mais sério em que o mesmo Senhor Procurador mostra a mesma falta de senso. O PGR que vê os blogues como uma vergonha, não vê apelo à xenofobia no famoso cartaz na Rotunda do Marquês.
Eu explico. Há pelo menos duas razões para considerar que que no dito cartaz há apelo à xenofobia: uma meio a brincar, outra completamente a sério.

Meio a brincar. Os imigrantes são mandados embora de avião. O avião levanta, mas não se sabe onde aterra, não tem qualquer tipo de identificação da companhia aérea e portanto a segurança dos imigrantes não está garantido senão por um ambíguo “Boa Viagem”. Correm, em suma, implicitamente, um risco de vida. Sendo certo que não está assegurado que os autores do cartaz se preocuparam devidamente com a segurança no transporte dos imigrantes há uma ameaça velada de violência sobre estes últimos.

Completamente a sério. Aparentemente “basta de imigração”. Nenhuma razão é oferecida para este alegado excesso de imigrantes. Portanto, senhor Procurador, os imigrantes estão todos a mais (nenhuma limitação é expressa) apenas porque são imigrantes, ou seja, porque são todos uns... estrangeiros. Devem ser postos a andar – “Boa Viagem” – e o mais depressa possível – de avião – apenas por serem imigrantes, ou seja, por serem estrangeiros. Apelo à xenofobia? Ou seja, a uma rejeição irracional e injustificada, racista portanto, dos estrangeiros? Mas alguém tem dúvidas!?!
Espero que o Senhor Procurador corrija urgentemente estas duas sérias calinadas. Infelizmente, como ele não lê blogues, isso é improvável.

Marinheiros Britânicos Libertados

O Presidente do Irão acabou de anunciar a libertação dos marinheiros britânicos. Esperemos que se concretize rapidamente. De qualquer forma - e não tenho qualquer simpatia pelo tipo de nacionalismo belicista e unilateralista, seja no Irão ou noutro lado qualquer - há que tirar o chapéu a este exercício de propaganda de Ahmadinejad.
Não sei se este discurso resulta no Ocidente - esta defesa dos valores familiares (uma mãe de família na tropa, como é que é possível?!), o ataque ao racismo e à duplicidade de critérios ocidentais, uma libertação misericordiosa para marcar o aniversário do Profeta Maomé e a Páscoa cristã - mas no Médio Oriente toca todos os pontos certos.

Alguns pontos de sublinhar:

O Presidente do Irão procura assim mostrar que o discurso dos valores não é monopólio do Ocidente.

As fronteiras marítimas são sempre difíceis de definir. Ninguém sabe onde fica a fronteira no Shatt al-Arab (até o nome é disputado entre o Irão e o Iraque, quanto mais a fronteira). Portanto não parece ser por isso que os fuzileiros e marinheiros britânicos foram emboscados. Tudo indica que esta foi uma operação iraniana preparada e tornou-se mais um elemento numa guerra de propaganda e de numa guerra secreta que se tem intensificado desde o início do ano. (Com atentados por grupos armados anti-regime no interior do Irão; a fuga ou rapto de um dos principais líderes do Guardas Revolucionários para o Ocidente; a morte suspeita de um cientista nuclear iraniano; a prisão de diplomatas/espiões iranianos no Iraque pelos EUA; a prisão de um homem de negócios/espião norte-americano no Irão; a actividade de milícias xiitas no Iraque). Aliás, pode ser que em breve alguns destes espiões/diplomatas iranianos acabem por ser libertados (por acaso, claro). Será interessante nos próximos dias tentar perceber se houve algum que tipo de contrapartidas diplomáticas ou outras (afinal Blair falou nestas 48 horas como sendo decisivas, deve haver alguma razão para isso).

Esta humilhação britânica mesmo em cima dos 25 anos da vitória na Guerra das Falklands/Malvinas vem sublinhar as consequências negativas da opção de Blair alinhar com os EUA no Iraque. E claro enfraquece ainda mais a posição do Primeiro Ministro britânico nesta retirada de cena.

É bem possível que o Presidente Iraniano e os Guardas Revolucionários tenham sido forçado a apressar a libertação pelas correntes mais moderadas, ou pelo menos mais realistas. Por homens como o Secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional Ali Larijani - que ontem assumiu um maior protagonismo na questão - directamente dependente do Líder Supremo Ayatollah Khamenei: o homem que realmente manda no Irão (sobretudo nestes assuntos). O Presidente do Irão ter-se-ia limitado a dourar a pílula?

Pode ser. Mas alguns pontos fundamentais ficam mais uma vez sublinhados. A capacidade de resposta e retaliação do Irão. A incapacidade do Ocidente para forçar uma mudança de política externa ou nuclear - para não falar em mudança de regime - no Irão sem custos significativos. A Grã-Bretanha, quando está em apertos, subitamente lembra-se da utilidade da UE. O Irão quer ter a atenção e o respeito que considera ser-lhe devido como uma grande potência.

terça-feira, abril 03, 2007

Blogues mesmo, mesmo anónimos


O novo Público tem uma selecção do que se escreve nos blogues. Parece-me bem. Sobretudo se a escolha for criteriosa. (Um sinal disso será, claro, citarem muitas vezes o Amigo do Povo, o que é capaz de ser menos provável depois deste poste.)
No entanto, depois de este jornal (e outros mais em inúmeros editoriais e artigos de opinião) ter mostrado tanta e tão frequente preocupação com o grave problema que é o carácter anónimo dos blogues, é um bocadinho estranho que os postes transcritos no Público sejam por sistema anónimos (mesmo quando o não são). Trocado por miúdos: é referido o blogue de origem do texto, mas não o autor do poste. Portanto, meus amigos bloguistas, assinai os vossos textos à vontade que no Público eles continuarão ser (ou melhor a parecer) sempre anónimos. Querem blogues mesmo, mesmo anónimos? Só mesmo no Público.

IMAGEM: mesmo anónima, mas tirada daqui.

Por causa do Pedro Picoito…

Por causa do Pedro Picoito, fui ler no Arrastão uma crónica de Rui Tavares no Público. O Pedro Picoito diz que não concorda com quase nada daquilo que lá vem escrito mas que ficou a pensar. Eu li-a e comecei logo a vomitar, sendo que a culpa não foi do almoço. O texto (presumo que estamos a falar do mesmo) é tão confuso, tão absurdo e tão violentamente mau que nem se sabe muito bem por onde começar o comentário. Mas eu sublinharia, apenas, dois enormes erros de facto que, não sendo inocentes, são sinal da enorme desonestidade intelectual do seu ilustre autor. A primeira é classificar os crimes cometidos pelas “FP 25 de Abril” como uma mera excrescência pós-revolucionária. Eu devo recordar ao “historiador” Rui Tavares que dez anos após o 25 de Abril as “FP” ainda eram uma organização terrorista cujos membros, em geral, queriam continuar a matar e que, muito naturalmente, não se arrependiam de o ter feito num passado recente. As "FP 25 de Abril", e apesar do nome, não são nem nunca foram uma excrescência pós-revolucionária. Aproveitaram uma data que pode ser cara à esquerda e, sobretudo, aos "democratas" portugueses, para indiscriminada e cobardemente assassinarem seus concidadãos. Foi isso que perceberam as autoridades políticas e judiciais que, no Governo do Bloco Central chefiado por Mário Soares, iniciaram e concluíram o seu desmantelamento. E mesmo que o tivessem sido – uma “organização” terrorista estritamente ungida por uma dramática conjuntura pós-revolucionária – certo é que nada desculparia os seus crimes e ressuscitaria os mortos que fez. Sobre isto Rui Tavares nada diz. É aliás curioso que todos recordemos ainda, e bem, o nome de Alcino, assassinado por militantes da extrema-direita portuguesa, mas ignoremos os nomes de todos aqueles que foram assassinados pelas FP ou, antes disso, pelas Brigadas Revolucionárias (estas sim, tal como o ELP, organizações terroristas típicas do radicalismo do PREC. Se fosse cínico apenas diria que há uma certa esquerda que tem uma enorme vocação para produzir mártires, qualidade que, manifestamente, a direita, e quanto ao caso concreto dos crimes cometidos pelas FP, não possui. Dito isto, recordaria que ao pé daquilo que foram as “FP 25” a actual extrema-direita portuguesa é, felizmente e por enquanto, uma realidade relativamente pacífica. É claro que se poderia aqui divagar um pouco sobre o bom e o legítimo que pode ser matar “empresários” e o condenável que é matar negros ou mulatos, recordando que para muita esquerda inteligente a vida destes vale muito mais do que a dos primeiros. Depois pode-se sempre falar dos programas do BE e do PCP para imediatamente como são pacíficos quanto aos princípios, meios e fins que evocam, ou recordar as ligações do BE à extrema-esquerda revolucionária que por esse mundo – e em Portugal – tem espalhado a paz e a concórdia, ou a recente presença das FARC na festa do Avante. Tudo gente pacífica e bem intencionada.
Mas depois vem a questão do racismo. Como se este e a xenofobia fossem em Portugal um problema da extrema-direita ou da direita. Rui Tavares pensa que os partidos de direita como o PSD e o CDS devem começar a convencer os militantes, simpatizantes e militantes de que o racismo e a xenofobia são inaceitáveis. Estou totalmente de acordo. No entanto, só a ignorância, a estupidez e a desonestidade intelectual do Rui Tavares podem supor que o racismo e a xenofobia são uma doença da direita ou dos direitistas.
Assim sendo penso que ficamos esclarecidos sobre a alta relevância de um texto que colheu em estado de enorme debilidade, talvez por causa das penas impostas pela quadra, o meu estimável amigo Pedro Picoito.

Tribunal de Contas

O Tribunal de Contas tem-se revelado um involuntário, mas muito útil, parceiro da oposição. Mesmo que dê ar de andar a diminuí-la. O Tribunal de Contas não é inocente. Parece apenas ser competente e ter o prestígio técnico que falta aos políticos (ou que se tende a considerar que falta aos políticos). Mas, e acima de tudo, o Tribunal de Contas parece falar em nome do povo ou da nação e dos seus superiores interesses. Aparentemente, nada parece haver de novo nas suas conclusões, nas suas acusações. Excepto o facto de, recorrentemente, acusar de falta de rigor um conjunto procedimentos levados a cabo em circunstâncias várias por parte de um Governo que se autoproclama como o paradigma do dito rigor.
No futuro, e enquanto houver Governo Sócrates, os danos prováveis causados pela divulgação de um novo relatório produzido pelo Tribunal de Contas merecerão uma cada vez maior atenção, prevenção e reacção política da parte dos assessores pagos a peso de ouro com os nossos impostos. Nesta altura, porém, parece mais bem empregue do que nunca o dinheiro consumido na redacção de pareceres por parte de um órgão nominalmente chefiado por Oliveira Martins, ex. ministro das Finanças de António Guterres. No entanto, há que valorizar o Tribunal de Contas, uma velha “força de bloqueio”, não por putativamente favorecer as oposições, mas apenas por fortalecer o nosso ainda e sempre algo débil regime democrático.

Adivinhas

Com os últimos desenvolvimentos da crise política em torno do currículo académico do primeiro-ministro José Sócrates, arrisco-me a adivinhar que Carmona Rodrigues sairá dos Paços do Conselho depois do chefe do Governo deixar São Bento.

Livro de Ponto


Quem compra ou consulta livros velhos convive com rabiscos esquisitos, pontos de interrogação avulsos, sublinhados bêbados, e nem por isso se amofina. Digo, não me amofino. Neste opúsculo, porém, encontrei o cúmulo da retentividade literata: o que terá levado o anterior proprietário a trancar dezenas e dezenas de parágrafos com a data da sua leitura, como quem ordena a uma mensagem de voz - confundindo-a com um telefonema - que fique em espera?

O marcador é reprodução de uma antiga cédula de excomunhão por dano patrimonial à Biblioteca da Universidade de Salamanca. Diz que já não se usa.